stellinha 18/01/2021
Nostalgia
Ler esse livro para mim, trouxe uma certa nostalgia.
Nunca fui muito chegada em Ficção Científica, mas como sempre gosto de desafios, sempre tento ler um livro ou outro.
Foi uma experiência interessante, mas porque eu já tinha um histórico do filme de 1982 de Ridley Scott, que amei na época. Tenho várias cenas na memória, principalmente do Rick Deckard e da Angel, um casal romântico apesar de inusitado, entre um humano e uma androide, e a música do filme, do Vangelis, é linda, maravilhosa! Tenho até hoje o vinil e o CD do da trilha sonora, e sempre escuto.
É claro que não lembrava do enredo em si, e pelos textos de apoio e entrevista com o autor, fica claro que o livro é bem diferente do primeiro filme. E uma das diferenças é que o livro se passa em 1993 e o filme em 2019, quem diria, ontem.
O livro explora bastante os animais, o quanto eles são importantes na história, se são elétricos ou genuínos, uma questão de status.
“Perguntar “sua ovelha é genuína? seria, possivelmente, uma quebra de etiqueta pior do que indagar se os dentes de um cidadão, seu cabelo ou seus órgãos internos eram autênticos”.
E vemos também a evolução da inteligência emocional e o quanto os androides vão se tornando mais humanizados, com a diferença que não possuem empatia.
“Empatia, evidentemente, existia apenas na comunidade humana, ao passo que inteligência em qualquer grau poderia ser encontrada em todo filo ou ordem biológica, incluindo os aracnídeos. [..] Porque, em última análise, o dom da empatia ofuscava as fronteiras entre caçador e vítima, entre vencedor e vencido”.
Mas, e os humanos do cenário do livro, possuem? Eles precisam de uma caixa de empatia, que acessam para fazer uso de uma “religião”, o mercerismo, uma idealização, que ficamos sabendo que é completamente falsa, montada, para que todos sigam um líder, um pensamento, e sempre que surjam problemas, recorram à caixa para se colocarem no lugar do outro, e pensar que assim todos sofrem juntos, se conformar com o que tem.
“Então, dentro dele, a mútua balbúrdia de todas as outras pessoas em fusão quebrou a ilusão de isolamento”.
Muito importante também é a Poeira, uma poluição que fez com que as pessoas na Terra tivessem que ir para outros planetas colonizados, por exemplo Marte, e os que ficaram são praticamente excluídos. A Poeira também trouxe a destruição da natureza, com a extinção dos animais.
Uma previsão do autor em 1968, ano em que o livro foi escrito?
Essa Poeira, fez estrago em algumas pessoas, como por exemplo o personagem Isidore, que passa a ser considerado um cabeça de galinha, um Especial, tornando-se deficiente em alguns aspectos.
“Uma vez classificado como Especial, um cidadão, mesmo que aceitasse ser esterilizado, era excluído dos registros da história”.
Discute-se muito também a ética envolvendo o Caçador de Recompensas, se o que ele faz pode-se chamar de necessário ou se é um assassinato, já que ele e outros consideram os androides uma coisa, sem denominação, apenas coisa. E quando se envolve com a Rachel, uma mulher, dona da empresa fabricante dos androides Nexus-6, o modelo mais evoluído, e através de seus testes de empatia, descobre que ela é uma Nexus-6 e não sabia, ele está sendo ético? Se envolve fisicamente com ela, mas ela na realidade apenas está protegendo seus iguais, para que o caçador não tenha mais coragem de eliminá-los. Um grupo de androides fugiu de Marte e está se escondendo e tramando uma revolta. Apesar da tentativa da Rachel de “sensibilizá-lo” ele consegue eliminar todos os 4 androides ainda escondidos.
Pensando agora que o primeiro filme se passava em 2019, um ano que se falou muito em inteligência artificial, em que a palavra chave se tornou empatia, dá muito o que pensar. Não acham? Um ano de Sapiens, Homo Deus, 21 lições para o Século 21, de Y. Harari e onde se discutiu o conceito de empatia, que ficou mais forte em 2020 com o caos da pandemia.
Vou rever o primeiro filme e depois assistir ao mais recente para poder ter um novo olhar depois de ler esse livro muito bom e que pode ser esmiuçado de vários ângulos nos fazendo refletir sobre vários assuntos: empatia, inteligência artificial, poluição, natureza e fanatismo.
E ao final, coloco a última declaração do autor P. K. Dick, sobre o filme que estava para ser lançado, e que ele não teve oportunidade de estar no lançamento:
“Minha vida e meu trabalho criativo estão justificados e foram completados com Blade Runner. Obrigado.... e vai ser um sucesso comercial estrondoso. Será invencível.
Cordialmente, Philip K. Dick