Juliano 10/01/2021
O Bêbado Sóbrio
A opinião sobre o livro de Mlodinow, físico respeitado que tem trabalho com Stephen Hawking, parece-me totalmente grudada com o que se busca e o que se espera dele. Tentarei me explicar.
O livro traz informações muito importantes e corretas sobre as teorias que pretensamente responderiam ao acaso, como a estatística, além de também nos oferecer histórias pessoais dos autores de tais teorias, o que sempre achei muito útil e enriquecedor para compreendermos melhor as ideias. Ainda que não haja nada no livro, nesse sentido, que não se encontre em qualquer outro sobre tema, é justo esse reconhecimento (afinal, não é uma disputa! Ele escreve um livro sobre o assunto e o fundamenta muito bem).
Por outro lado, há os exemplos. Exemplos são ótimos para entendermos, ainda mais questões complexas como as que ele aborda; porém, eu achei os exemplos excessivos, o que faz com que o livro caia perigosamente, várias vezes, em ser um livro de autoajuda. Bom, aqui exponho minhas preferências, que não são por livros desse tipo, mas esse não é o maior problema. Para mim, a grande falha é que ele, principalmente para o fim do livro, se coloca quase como um tipo de "guru do acaso", que mostra como podemos entender, aproveitar e até controlar o acaso: fica a um pequeníssimo passo de colocar frases de apoio e força daquelas que pessoas publicam nos stories do Instagram. O que significa, ao fazer isso, eliminar completamente a essência do acaso.
Então, se o objetivo ao ler o livro é mais voltado para esse lado da "autoajuda", de saber como posso usar o acaso na minha vida, de, como diz o subtítulo, saber como o acaso influencia na minha vida, o livro é um prato cheio, sensacional, não haverá arrependimento. Agora, se o objetivo é, como era o meu, do conhecimento técnico sobre o acaso para fins acadêmicos (no meu caso, entender/produzir o acaso na psicanálise), o livro é uma tremenda decepção e não fará falta nenhuma.
Vejam bem, a minha questão é bem específica, por isso o meu incômodo (mesmo assim, eu não teria gostado do livro de qualquer jeito, pois não me agrada o gênero). Eu tento trabalhar, na minha tese, o acaso nos seus limites, ou seja: para ser acaso, necessariamente deve ser imprevisível (além da irreversibilidade temporal), caso contrário, não há sentido em se falar de acaso. Quando "abraçamos" o acaso, mas posteriormente traçamos sua origem, não há mais acaso! Torna-se sinônimo de ignorância: aquilo que não sabemos, nomeamos acaso, quando o sabemos, já temos uma explicação, logo, a noção de acaso não é mais necessária e/ou perde sua razão de ser. Isso já está posto no pensamento ocidental desde a Grécia Antiga, o surgimento da Estatística seguiu o mesmo rumo, e Mlodinow vai exatamente pelo mesmo caminho, daí a minha frustração.
Parece que eu estou detonado o livro? Não estou! Apenas coloquei minhas impressões de acordo com um momento e objetivos bem específicos em que fiz o seu estudo. Tanto que não me arrependo de ter lido e acho sim que é um livro que vale a pena ler. Afinal, afora minhas discordâncias, eu tenho de admirar alguém que faz do acaso o tema principal de um livro, este assunto tão marginal na história da ciência.