Carol D. Torre 20/07/2014
Não sei bem porque quis tanto ler A Verdade Sobre Nós, apesar da capa ser linda eu não sou muito fã de amores impossíveis, acho que não tenho paciência para enrolação, sempre quero que os casais fiquem logo juntos. Mas assim que coloquei as mãos no livro já comecei a leitura e simplesmente não imaginava que poderia gostar tanto como aconteceu. A verdade é que fazia muito tempo que eu não era tão envolvida por uma estória.
Madelyn é a filha perfeita e a estudante perfeita que seus pais sempre exigiram. Por causa de suas notas altas, acabou entrando em projeto onde completa os últimos dois anos do colégio na faculdade, tudo que já estava planejado por seus pais para ela. Então é por isso que com dezesseis anos ela entra na sua primeira aula de Biologia na faculdade e acaba se encantando por seu lindo e jovem professor.
Por coincidência - ou pelo destino, se você acredita em tal coisa - Bennet e Medelyn acabam se esbarrando fora da sala de aula e se envolvendo mais do que esperavam e mais do que era correto. Receoso com a situação de professor e aluna Bennet propõe que escondam tudo até que o semestre acabe, mas, o que Madelyn não contou para ele, foi que mesmo depois disso ele ainda estaria se envolvendo com uma menor de dezesseis anos. Apaixonada demais para arriscar tudo ao contar a verdade ela esconde tudo até que o seu segredo vem a tona da pior forma possível. Agora Madelyn resolve explicar a verdade sobre os dois tanto para salvar Bennet quanto, e principalmente, para pedir seu perdão.
A Verdade Sobre Nós se parece em muitos sentidos com Por Isso A Gente Acabou do Daniel Handler. Assim como no segundo, A Verdade Sobre Nós é basicamente uma carta onde Madelyn conta toda a sua estória para explicar tudo o que fez ao mostrar a todos as suas motivações, ao dividir todos os seus pensamentos e todas as suas emoções. E, em ambos os livros, nós temos esse sentimento agridoce de saber, desde o começo, que não importa o que aconteça no meio do caminho nós já sabemos o final e sabemos que ele não vai ser aquele que nós queremos. Mas A Verdade Sobre Nós se torna completamente diferente de Por Isso A Gente Acabou ao se tornar uma estória muito mais acolhedora, muito mais ingênua.
Eu acredito que muita, mas muita gente mesmo, não vai gostar da Madelyn. É até mesmo possível que muitos não gostem do livro como um todo por causa dela, porque, querendo ou não, o tempo todo estamos presos na sua visão dos acontecimentos. E eu entendo que ela tem muitos defeitos, que ela age de forma errada diversas vezes, mas eu consegui entender a personagem e entender a autora por fazê-la dessa maneira já que A Verdade Sobre Nós é, acima de tudo, uma estória de crescimento pessoal.
Não diria que a Madelyn seja infantil, mas sim muito ingênua em muitos momentos. Ela está apaixonada pela primeira vez e sente tudo intensamente demais, ela faz de Bennet o centro de seu universo e acredita que só se sente segura e madura ao seu redor. E apesar de odiar esse tipo de comportamento eu entendi, entendi que tudo isso foi necessário para que ela desatasse todas as suas amarras criadas pelos seus pais e começasse a crescer e amadurecer. O que estou tentando dizer é que cada uma das ações da personagem tem um embasamento, tem um motivo coerente apontado pela autora. Então, sim, Madelyn tem defeitos, é ingênua e egoísta em muitos momentos, mas eu adoro personagens imperfeitos porque é exatamente assim que somos na vida real. E é incrível poder acompanhar uma estória pela visão de uma personagem tão apaixonada e deslumbrada.
Por outro lado é difícil falar do Bennet, já que só conhecemos ele pela visão da Madelyn e eu não considero essa uma fonte confiável já que ela está apaixonada por ele. E o mais interessante é perceber que apesar dele aparecer o livro todo e ser importantíssimo, o foco não está muito no personagem em si, em sua personalidade e em sua história, mas sim no quanto ele afeta a vida da Madelyn. A Verdade Sobre Nós é um dos raros casos onde o mocinho não rouba o papel da protagonista.
Eu fiquei encantada com a narrativa da Amanda Grace. Desde da primeira página ela conseguiu me conquistar e me envolver completamente na estória, tanto que li o livro inteiro sem pausas e terminei em menos de duas horas. Eu praticamente devorei as páginas, querendo saber o final, mas, ao mesmo tempo, sem querer que acabasse. Acredito que isso aconteceu porque, como já disse, ele conseguiu me envolver, eu me importei com os personagens, senti frio na barriga pelo romance e cheguei até mesmo a derrubar algumas lágrimas no final.
Eu gostei muito dos temas abordados pela autora. Ela falou muito sobre a pressão dos pais sobre os filhos, sobre como é errado quando os pais criam um futuro para seus filhos sem considerar quais são as vontades próprias deles. E, é claro, ela deu muito material para debate sobre relacionamentos entre professor e aluno e, principalmente, sobre a questão da idade, sobre qual é grande diferença real entre, por exemplo, uma garota de dezesseis e outra de dezoito anos. Não vou estender o assunto com as minhas opiniões pessoais porque acredito que cada um vai terminar o livro com sua própria visão sobre o assunto e ter a oportunidade de refletir sobre eles.
Se eu tivesse que achar algo para criticar seria que a Madelyn repete muito algumas coisas, mas, de novo, isso faz sentido porque são coisas que ela precisa frisar para que as pessoas que lerem a carta prestem atenção nelas. E se eu tivesse que apontar o maior acerto seria o final, porque nossa, como eu sinto falta de finais como esse.
Como eu disse, no começo, que não existiu uma explicação para o meu interesse repentino pelo livro também existe um porque exato que explique porque gostei tanto dele. Gostei do formato, do sentimento agridoce de já saber o fim, gostei da veracidade dos personagens com todos os seus defeitos e qualidades, gostei dos sentimentos puros e intensos que transbordam das páginas e gostei de retratar um crescimento pessoal tão visível e tão grande. Eu sei que muitos não vão gostar do livro, mas realmente acredito que todo mundo deveria dar uma chance. Fazia tempo que estava esperando o livro como esse e talvez vocês também estejam.
"Foi assim conosco. Um dia, éramos duas pessoas separadas. No seguinte, nos esbarramos, e nenhum de nós teve a menor chance."
"Dez anos não é muito, sabe? Se eu tivesse vinte e você, trinta, será que alguém se importaria? Parece cruel que quatro aninhos sejam tão importantes, capazes de mudar uma vida. Na verdade, só dois importavam. A diferença entre dezesseis e dezoito. A diferença entre o amor que pode durar uma vida e o amor que nunca pode acontecer."
"Eu só via você e quanto o queria. Sabia, naquele momento, que precisava fazê-lo ser meu, a qualquer preço, apostando para ver o que o futuro nos reservaria. Só queria ter sabido, naquele dia no rio, que não eram minha vida, minha dor, que estavam em jogo. Eram as suas."
" Todo mundo é egoísta, Maddie. Faz parte de ser humano."
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