Tai Nariati 23/06/2020
Leitura obrigatória!
Americanah, obra da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, é sem dúvida um dos meus livros prediletos. O meu maior arrependimento foi tê-lo lido somente quatro anos depois de seu lançamento no Brasil.
A obra retrata o romance e a trajetória emocionante de Ifemelu e Obinze, que se conheceram na adolescência, na cidade de origem deles, Lagos, na Nigéria. Esse romance teve o seu curso natural interrompido, a princípio por causa de uma guerra no país governado pelo regime militar – o que obrigou Ifemelu a ir para os Estados Unidos, e Obinze para a Inglaterra; e posteriormente por questões altamente atuais, que influenciaram Ifemelu a não corresponder mais às tentativas de Obinze em manter um relacionamento à distância até poder reencontrá-la.
Ifemelu é uma personagem extremamente marcante. Sempre forte e direta, ao pisar nos Estados Unidos ela se depara pela primeira vez com algo que em toda sua vida na Nigéria não foi um problema, a raça. Precisando sair do país para se sentir negra, ela se depara com questões constrangedoras e humilhantes, que são mascaradas pela sociedade até nos dias de hoje. Ifemelu revela como é ser negra nos Estados Unidos, ou melhor, como é ser imigrante negra nos Estados Unidos. A autora deixa bem claro que às vezes o problema não é sua fé, sua sorte, seu mérito, suas influências, seu currículo, apenas sua raça e sua origem.
Na adolescência, Ifem, como era chamada, sonhava em ser uma garota Americanah. Era assim que suas amigas chamavam quem conseguia migrar para os Estados Unidos. Porém, todos os seus devaneios são substituídos por frustrações quando ela descobre na pele que, para sobreviver, sua identidade deve ser deixada para traz; seu cabelo deve ser “aceitável”; seu tempo como imigrante deve ser abundante; seus gostos devem ser abdicados; e suas opiniões alteradas.
No início de sua estadia no novo país, além dos problemas financeiros e preconceituosos, Ifemelu é tomada pela culpa e vergonha da vida que leva, o que a faz se afastar de Obinze, que teve uma vida difícil também na Inglaterra, mas que ao longo dos anos, assim como ela, conseguiu se alavancar profissionalmente. Isso mesmo, apesar de toda dificuldade, ambos conseguiram se tornar pessoas de sucesso. Ocorre que o sucesso e o tempo de Ifemelu não a fez esquecer Obinze e suas origens, fazendo com que, depois de mais de uma década, ela deixasse tudo para traz e retornasse a sua cidade Natal. Mas nem tudo era como antes.
Ao chegar à Nigéria, Ifemelu tem a oportunidade de agora, com uma cabeça adulta, e não de adolescente, conviver com as diferenças discrepantes entre seu país de imigração e seu país de origem. Além de tentar se justificar perante Obinze acerca do porquê o abandonou anos atrás, fazendo o presente de Obinze balançar ao extremo por questões do passado.
Eu achei esse livro tão forte, que acho que não conseguirei expressar tudo neste texto. Além de trazer empoderamento feminino, empoderamento negro, que é uma excelente forma de exaltar o gênero e a raça, o livro traz fortes situações de discriminação racial e cultural, além de contar com falas que, ainda nos dias de hoje, muitas pessoas não têm coragem de externar.
O mais surpreendente é que, apesar de ser um romance, o amor de Ifemelu e Obinze acaba não sendo o foco principal do livro, tendo em vista que a crítica social parece ter sido o ponto principal do livro.
Para quem curte “viajar” em histórias cheias de conflitos reais e psicológicos, envolvendo raça, choques culturais, empoderamento e superação, essa é uma leitura recomendada e obrigatória!
site: https://www.tainariati.com/post/americanah-resenha-do-livro