neo 13/01/2015Esse livro se parece mais com um rascunho do que com uma obra finalizada.
Mas estou me adiantando. Vamos por partes, certo?
Primeiro, devo dizer que não comecei a ler The Iron Trial muito empolgada. Já li os três primeiros volumes de Os Instrumentos Mortais da Clare, uma das autoras, e gostei deles (apesar da escrita meh), mas o quarto me fez desistir da série de vez (culpa do mimimi, cara). Alguns rumores de plágio (não tão rumores, masss) e cyberbullying cometidos pela Clare que ouvi por aí também me fizeram perder a coragem para ler qualquer coisa dela, mas bem, Holly Black, a outra autora, tem uma reputação muito boa e apesar de nunca ter lido nenhum livro dela resolvi dar uma chance para a obra conjunta das duas. E durante as primeiras 140 páginas (no meu tablet) eu percebi, surpresa, que na verdade estava gostando da história.
Mas aí a coisa ficou chata e eu acabei deixando o livro de lado por duas semanas antes de finalmente tomar coragem para terminá-lo.
Mas por que a coisa ficou chata?
Primeiro, a escrita. Li em inglês e acho que vocês já sabem que quando leio em inglês não sou muito de ficar cricri com escrita alguma a não ser que ela seja muito ruim. A de The Iron Trial não é tão ruim assim, mas na segunda metade ela se tornou desajeitada demais e amadora demais (talvez algo a ver com o fato de que foram duas pessoas escrevendo? Não sei). As cenas de ação foram tão mal escritas que doeram na minha alma, sem brincadeira. E como consequência, os personagens ficaram muito superficiais e desinteressantes. Por exemplo, no início gostei muito do Aaron, mas na segunda metade toda aquela simpatia que eu sentia por ele simplesmente desapareceu como se nunca tivesse existido. Outros personagens (como Tamara) tinham potencial, mas, mais uma vez, acabaram rasos e tediosos.
Segundo, o worldbuilding não foi dos melhores. Quero dizer, é impossível não comparar The Iron Trial com Harry Potter, e comparando as duas séries fica óbvia uma diferença latente no "clima" e na caracterização do mundo. Hogwarts tem personalidade, por assim dizer. Dá para sentir a atmosfera do lugar, dá para reconhecer sem ter que pensar muito... Já o Magisterium é terrivelmente oco e, portanto, completamente sem personalidade ou profundidade. O tempo todo em que os personagens principais (que, é claro, são dois garotos, Aaron e Callum, e uma garota, Tamara) passam no Magisterium soa terrivelmente incompleto. E aqui, mais uma vez, a escrita pesa; foi tão simplória que não consegui imaginar boa parte da escola, e as aulas e a magia se tornaram algo completamente chato.
Terceiro, o livro é um tanto mal estruturado. Entendo que é para um público mais novo, mas livros para criança ainda têm que ser inteligentes e bem feitos, e The Iron Trial não é. A amizade de Tamara, Aaron e Callum, por exemplo, é muito mal desenvolvida e acaba sendo algo mais dito do que mostrado. Não pude sentir o alívio de Callum por ele finalmente ter feito amigos e não pude torcer por ele quando ele tentou salvá-los porque a amizade deles não me convenceu. Foi algo muito fácil e portanto desinteressante.
Além disso, o livro sofre de ausência crônica de foreshadowing. No final, várias coisas interessantes acontecem, mas elas parecem fora de lugar e saídas do nada justamente porque não houve um bom foreshadowing (ou melhor, não houve foreshadowing nenhum). Em Harry Potter o mistério de cada livro é introduzido no início e por isso o leitor passa a história toda perguntando o que vai acontecer e como tal acontecimento vai se desenrolar. Em The Iron Trial os acontecimentos que desencadeiam o clímax da história surgem sem mais nem menos quando menos se espera, justamente porque não houve foreshadowing nenhum. Ou seja, eu não estava esperando nada acontecer, porque em nenhum momento me foi mostrado que algo aconteceria de fato.
O que mais me irrita é que a história é boa. Quero dizer, o plot twist do final faz a história ficar boa. Apesar de tudo, estou curiosa e quero saber como as coisas vão acontecer nos próximos livros e isso apenas por causa desse plot twist. Mas não sei se vou conseguir encarar mais 300+ páginas de worldbuilding meia boca, escrita desajeitada e personagens sem profundidade.
The Iron Trial me parece um rascunho justamente por isso; posso imaginar perfeitamente uma versão melhorada da história, que só precisaria melhorar na escrita e na estrutura do plot para se tornar realmente boa, já que bons personagens geralmente acompanham esses elementos. Enfim, 2 estrelas.
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