Carol 27/01/2014
Memorável
O garoto no convés, de John Boyne, conta a história de John Jacob Turnstile, um garoto de 14 anos que vive nas ruas de Portsmouth cometendo pequenos furtos para sobreviver. Em um desses delitos, quando ele rouba o relógio de um fidalgo francês, o garoto é pego, levado ao tribunal e recebe por penalidade 12 meses de cárcere.
Antes de ele ir para a prisão, o fidalgo que foi assaltado aparece perante o magistrado e faz uma proposta: ao invés das jaulas, oferece levar o garoto para uma viagem em uma fragata do Rei Jorge, o HMS Bounty, servindo de criado ao capitão William Bligh. Turnstile aceita mais do que depressa planejando fugir na primeira oportunidade. Então ele entra na embarcação que será o lugar onde passará por muitos apertos e aventuras e, com o tempo, ganhará experiências únicas.
Anteriormente ele morava com o Sr. Lewis, dono de um estabelecimento que cuidava de meninos e, em troca disso, eles lhe davam o que ganhavam com os furtos e à noite serviam para a Seleção Noturna. Esta é a parte triste da história do mestre Turnstile, quando ele relembra todos os abusos sofridos no último andar do estabelecimento e teme o que pode lhe acontecer ao retornar à Inglaterra.
Trata-se de um livro envolvente, recheado de emoções e aventuras a bordo do Bounty e mesmo fora dele, quando desembarcam nas ilhas do Pacífico. É possível viajar sob um sol escaldante, enfrentar terríveis chuvas e tempestades, sentir enjoo e fome... Sentir-se parte da tripulação. Além de tudo, quando ocorre o motim, é impossível não se revoltar com a situação. Os marujos esperam pela morte e as esperanças começam a se esvair. John Boyne tem uma criatividade tremenda ao descrever o dia a dia dos navegadores.
Do mesmo autor de O menino do pijama listrado, O garoto no convés tem também um fato verídico como pano de fundo e é capaz de prender o leitor do início ao fim. É uma história de lealdade, dever e honra. Achei interessante Boyne usar Matthieu Zéla, o fidalgo francês, como integrante desta história, pois ele é o protagonista de O ladrão do tempo, o primeiro romance escrito pelo autor, que foi lançado esse ano no Brasil pela Companhia das Letras. Outro ponto que eu não poderia deixar de citar é a textura da capa que é perfeita. Leitura recomendada!
Eu não olhei para trás nenhuma vez, (...) não pensei nem de passagem no estabelecimento no qual tinha sido criado e no qual haviam me roubado a inocência uma centena de ocasiões. Só tinha olhos para o futuro e para as emoções e peripécias que me esperavam.
Ah, que garoto ingênuo! Eu não tinha a menor ideia do que me aguardava.