Gaia 29/04/2022
Vocês nunca devem se sentir condenados.
Faz algum tempo que eu li este livro e não tive tempo de fazer uma resenha sobre ele. E na verdade, já o tinha lido em 2019, mas considerei que não havia absorvido a leitura muito bem e gostaria de lê-lo de uma nova ótica ( além de também querer o ler novamente após ter me descoberto parte da comunidade LGBTQIAP+ ).
Esse livro é curto, mas ele conseguiu me dar tantos tapas na cara que por um momento cogitei ser masoquista por estar gostando tanto de sofrer a ponto de continuar com a leitura. As metáforas, as críticas e o sentimentalismo arrebatador desse livro causam uma inquietação e solitude gigantesca, ao mesmo tempo em que, em contrapartida, faz com que você ( pessoa lgbt+ ) se sinta parte de algo, e se sinta feliz por ter esse algo.
É um misto de sentimentos indescritível e a escrita do David Levithan é fluída e comovente. E eu sinto uma nostalgia indescritível quando olho e releio as minhas partes favoritas desse livro, afinal, O David Levithan foi um dos primeiros escritores de livros Lgbtq+ que eu conheci quando comecei a pesquisar sobre a comunidade, em 2017.
De qualquer maneira, os personagens são cativantes e tem histórias interessantes e nos sentimos, pelo menos um pouquinho, apegados as narrativas de cada um deles. E algo que me deixou extremamente feliz nesse livro foi o fato de ter um garoto trans e retratar como ele se sentia com relação a si mesmo, antes e depois de se reconhecer como trans, além de esse não ser o único foco narrativo do personagem.
Os meus post-its acabaram de tantas frases dolorosamente reais que são retratadas aqui. Eu fico realmente feliz que tenha dado uma segunda chance para esse livro.
"Foi uma ironia delicada: quando paramos de querer nos matar, começamos a morrer. [ ... ] Adultos podem falar o quanto quiserem sobre os jovens se sentirem invencíveis. É claro que alguns de nós tinham essa ousadia. Mas havia também uma voz interior nos dizendo que estávamos condenados. E estávamos condenados. E não estávamos.
Vocês nunca devem se sentir condenados."
"Tentamos contar para eles o que estava acontecendo. Tentamos contar que a doença estava se espalhando. Que precisávamos de médicos. Que precisávamos de cientistas. Mais do que tudo, precisávamos de dinheiro, e para ter dinheiro, precisávamos de atenção. Colocamos nossas vidas nas mãos das pessoas, e, quase sempre, elas olharam para nós sem entender e perguntaram: Que vidas? Que mãos?"