Janaina Edwiges 02/11/2021
Pai, meu pequeno filho.
Meu encanto por esta obra do escritor português José Luís Peixoto teve início no momento que pousei meu olhar sobre o título: Morreste-me! A utilização pronominal do termo é incomum no português falado no Brasil e carrega um significado importante sobre a perda de um ente querido. O processo da morte não se limita apenas àquele que deixa esta vida, uma vez que sempre se morre para alguém, seja um familiar, um amigo, um bichinho de estimação, a humanidade.
A percepção provocada pelo título foi o que me guiou durante a leitura da história, que retrata o luto de um filho pelo falecimento do pai. Mesmo que o mundo insista em continuar os seus movimentos - “tudo quer e tenta ser igual, sem ti as pessoas ainda vão para onde iam, ainda seguem as mesmas linhas invisíveis” - aquele filho detém a certeza de que a ordem foi alterada de alguma maneira e de que nada mais será como antes.
Morreste-me foi um livro que me despertou um sentimento de muita tristeza por aquela vida que se esvaiu aos poucos. As lembranças que o filho conta dos momentos em que estiveram juntos, o relato dos ensinamentos que recebeu, as realizações que o pai não terá chances de concretizar e o sofrimento provocado pela doença suscitaram um grande pesar em mim. No entanto, a tristeza que eu senti foi confortada por todo afeto, por todo amor daquele filho pelo pai, que viveria constantemente em suas lembranças. “Descansa, pai, dorme pequenino, que levo o teu nome e as tuas certezas e os teus sonhos no espaço dos meus. Descansa, não vou deixar que te aconteça mal. Não se aflija, pai”.
Embora seja um livro bem curtinho, Morreste-me é de um fervor poético que transborda a cada página e desperta um encantamento ímpar pela língua portuguesa. Terminei a leitura repleta de sentimentos de gratidão e orgulho por ser falante do português e poder apreciar tanta delicadeza, exemplo do que um escritor grandioso consegue criar com nosso belíssimo idioma.