djoni moraes 23/12/2020
A força poética da dor.
Uma narrativa tão breve e tão dilacerante, que me fez parar várias vezes, tamanho o peso das palavras aqui contidas. Ler estas linhas me fez sentir um invasor, um expectador, vendo um homem adulto agonizar uma dor de perda lancinante de um pai amado. De uma maneira melancólica, imagino um homem que, na tentativa de tornar o fardo do luto mais afável, divide-o com nós, e nós, infelizmente, não temos nada a falar, não temos como consolar, não temos uma palavra de alento sequer; nós, apenas, podemos chorar junto a ele.
No clamor do autor, convivem o desespero e a esperança que apenas um amor tão puro e verdadeiro como este pode deixar ao esfumar-se.
"Pai, fiquei no silêncio do inverno que abraçaste. Não há primavera se não imaginar erva fresca das palavras 'erva fresca' ditas por ti; não haverá verão se não imaginar o sol da palavra 'sol' dita por ti; não haverá outono se não imaginar o fundo do esquecimento da palavra morte dita nos teus lábios".