Polly 06/12/2017
Confuso e melancólico, mas não de um jeito bom (#027)
Sabe aquelas raras ocasiões em que a adaptação para as telinhas é melhor do que o próprio livro? Pois é, esse é o caso do A Mulher do Viajante do Tempo. A adaptação, não sei por que, saiu no Brasil com o nome de Te Amarei para Sempre. Assisti ao filme há muito tempo e lembro que gostei muito. Recentemente descobri que ele é a adaptação de um livro e logo corri desesperada para lê-lo. A decepção foi grande. A história, como romance, não fluiu tanto quanto como roteiro de filme. Quase não há emoção. É melancólico (principalmente a parte final), mas não emocionante.
O livro conta a história de um casal, a Clare e o Henry. Os dois se apaixonam em circunstâncias completamente incomuns. É que Henry tem uma anomalia genética que o faz viajar no tempo. Henry viaja para passado e futuro, visitando ou revisitando momentos importantes que viveu ou que irá viver. Clare conhece a versão futura de Henry quando ainda é uma criança. Sua infância e adolescência serão marcadas pela presença constante de Henry.
Já o Henry conhecerá Clare, no presente, apenas quando ele tiver 28 anos e ela 20. Clare saberá quase tudo sobre ele (o romance deles será bem confuso). Mas, Henry ainda não é aquele que será no futuro. Clare terá que ter paciência para que o inconsequente Henry do seu presente se torne o homem de suas memórias.
~ A partir daqui pode ter spoiler ~
Bem, é isso. O livro é uma confusão. Vai e volta no tempo, contando o drama do casal. Tem horas que simplesmente não se entende o que acontece, sobretudo no começo. A história é contada tanto da perspectiva do Henry como da de Clare. Se não fosse o início de cada trecho dizendo quem é que está falando, tudo pareceria a mesma voz. Não existe diferença entre discurso de Henry e o de Clare. Tudo bem, eles são almas gêmeas, mas eles não são a mesma pessoa, não é? Não sei se é uma falha da tradução, mas tudo parece ser contado da perspectiva da mesma pessoa. Só lendo o texto original para saber...
O livro é imenso para a pouca história que conta e talvez, as quatrocentas e poucas páginas poderiam ser resumidas em menos de duzentas. Por vezes, em vez de ter a sensação de estar viajando no tempo junto com o Henry, eu sentia estar presa no tempo desses dois. Ficava chato.
Outra coisa que achei superesquisita é que, mesmo nunca fazendo nada em suas visitas à Clare adolescente, o Henry passa a sentir desejo pela garota. Sim, ela será sua esposa no futuro, mas, na ocasião, ela tem 13, 14 anos; e ele tem 30, 40. Não é ser moralista, mas convenhamos, ela tem apenas 13, 14 anos... É, no mínimo, estranho.
Outra coisa que fiquei inconformada foi como o Henry conseguiu nascer. Vai ter um momento que Henry e Clare tentarão ter filhos. Ela consegue engravidar, mas acaba abortando todas as crianças, porque simplesmente todos os descendentes de Henry terão o mesmo problema genético e viajarão no tempo mesmo dentro do ventre da própria mãe. Depois de inúmeros abortos (que é de um sofrimento de dá dó), um médico descobre como fazer os bebês ficarem durante toda a gestação dentro da barriga de Clare. Ela faz um tratamento imunológico. Até aí tudo bem, mas fiquei pensando: como o Henry nasceu? Por que o Henry não viajou no tempo dentro da barriga da mãe dele? Ele adquiriu uma doença quando criança que mudou os seus genes? Isso me incomodou. Ficou sem explicação.
Enfim, A Mulher do Viajante no Tempo não foi meu pior livro, mas também não está na lista dos melhores. A premissa da história é ótima e promete ser envolvente, mas seu desenvolvimento deixa a desejar. Além das falhas mal explicadas. Se recomendo a leitura? Deixo por sua conta em risco! Já vi gente que morre de amores pelo livro. Quem sabe você não seja uma delas.
site: https://madrugadaliterarialerevida.blogspot.com.br/2017/12/a-mulher-do-viajante-no-tempo-audrey.html