Paulo Silas 29/12/2016Pondé em mais um livro polêmico, cujo alvoroço se dá em decorrência de sua postura um tanto quanto ofensiva e muitas vezes desmedida. O autor possui grande prestígio, mas vejo que peca pelos seus excessos, muitos deles sem bases justificantes. Daí que mantenho o meu respeito juntamente com a discordância de muito do que é defendido pelo filósofo. A grosseria é o mote da presente obra.
"Guia Politicamente Incorreto do Sexo" enuncia uma ideia que soa interessante: desgarrar o sexo das amarras do politicamente correto. Entretanto, um dos tropeços que observo como sendo responsáveis pelos equívocos da obra, é a confusão feita sobre o politicamente correto. Afinal, o que seria o politicamente correto? Para Pondé, o politicamente correto estaria presente nas posturas progressistas e ditas como libertadoras. Politicamente correto seria seguir as "modinhas da esquerda" e se submeter aos ditos avanços sociais - amplamente refutadas pelo autor. Entendo que é justamente o contrário. Concordo que o "politicamente correto" acarreta em alguns exageros eivados de superficialidade, mas situo o termo num aspecto diferente daquele utilizado pelo filósofo. Para melhor ilustrar minha discordância, um exemplo peculiar dado no livro: para o autor, "uma das ferramentas de mídia e conteúdo que mais revelam o efeito negativo do politicamente correto é a pregação gay nas novelas". A "doutrinação gay televisiva" é tida pelo autor como uma postura inadequada do politicamente correto. Divirjo aqui em dois aspectos: um, por não concordar com o que entende o autor pelo termo; dois, por achar absurdo que se ache ofensivo ("massacre" é o termo utilizado pelo autor) ver "duas senhoras se beijando" na televisão. E esse é apenas um dos pontos em que há exagero polêmico na obra.
Dentre tantas, o autor tece ácidas críticas contra o feminismo, contra as discussões atuais sobre gênero, contra a superação de costumes, contra propostas pedagógicas, enfim, contra tudo aquilo relacionado ao sexo que é visto como superador, inovador ou libertador. Vale lembrar que quase tudo o que é dito se ampara na pura grosseria, deixando pouco espaço para uma exposição ou diálogo mais construtivo ou fundamentado.
Mas menciono também um dos poucos pontos positivos do livro. A histeria (aquela da psicanálise) fundamenta algumas posturas irracionais que se escondem sob um manto superficial de algo constructo socialmente no plano atual. O não reconhecimento de questões intrínsecas e as tentativas de suprimir aquilo que opera no inconsciente são algumas das manifestações forçadas que as políticas mais excessivas e radicais eventualmente pregam. E isso é tentar negar o inegável. Uma coisa é a contenção do natural, outra é a negação de algo concreto (aqui, vale destacar, o autor acaba caindo na própria fala, em que pese ele refute todo e qualquer argumento que se ampare no campo sociologia). E contra essas negativas o autor se insurge, pelo que merece aplausos - por mais ofensivo que seja em suas exposições.
De qualquer modo, tenho que é um livro que não merece a leitura. Mesmo discordando de suas posições, digo que o autor já escreveu coisa melhor.