Francine122 14/09/2023
Obrigada, Dostoiévski
Sobre a "A Dócil", comentei quando finalizei a novela no meio do livro. A maneira como a insegurança secreta e as frustrações inevitáveis da vida se transformam em possessividade, cegueira, ciúmes e tormento é magnífica (pra quem lê, não pra quem sente). Além disso, as referências a outros indispensáveis literários, como "O Último Dia de um Condenado" de Victor Hugo e "Fausto" de Goethe, demonstram a minuciosa maestria de Dostoiévski. Ele excede no sórdido e faz com que você se entregue, exigindo doses de benevolência para saciar a derrota. Trata-se da derrota da alienação. Não é um exagero dizer que após ler qualquer obra dele, passamos a analisar as coisas de forma distinta. Talvez de maneira mais triste, talvez de forma mais tolerável. Isso depende de quem lê e de como o faz.
AGORA, SOBRE O NIILISMO DE "O SONHO DE UM HOMEM RIDÍCULO", ESTOU SEM PALAVRAS! Que leitura desagradável! Sinto um aperto no peito, um desconforto profundo. Sou ridícula, assim como o protagonista. A diferença é que em mim não resta esperança alguma. Nenhuma. A redenção pós-êxtase onírico é bela. Não deveríamos apenas aprender sobre o amor, mas amar, não é mesmo? A questão da vaidade, da perdição, da ambição... É tudo arrebatador. Não que eu tenha ficado surpresa com a maldade humana, longe disso, mas fiquei afetada. Eu não busco consolo e tranquilidade nessas leituras, mas esse desfecho, não por ignorância, emana uma sensação de dúbia, de indecência, como se fosse um: "É isso, boa noite". No entanto, eu senti o desespero, por causa da responsabilidade individual. Terminei o livro há alguns dias e ainda o mantenho em pensamento, em um estado de torpor. É difícil expressar a decepção que sinto. Quando ele afirmou "Eu sou a origem do pecado do mundo", acreditem se quiser, um sorriso tenebroso se formou em meu rosto. Não de orgulho por ele, mas pela crença na capacidade de Dostoiévski de tornar brilhante qualquer perturbação do coração, que rege os sonhos dos quais eu preferiria nunca ter acordado.
Com o livro surgem, inevitavelmente, reflexões sobre o ser humano vivendo sua essência, contemplando o intelecto e o prazer do homem. Depois, vêm as trivialidades, o desprezo, a dor e, por fim, Sodoma e Gomorra. O que faço agora? Leio outro como se nada tivesse acontecido? Penso e não chego a conclusão alguma? Não posso deixar que o conhecimento sobre o livro supere o próprio livro. Enfim, que lama!