Carla Martins 02/01/2013Bom como uma história de ficção. E só.Tinha ouvido falar tanto em A Cabana que estava com receio de ler a obra. Até que meu marido, passeando pela Fnac e sabendo da minha paixão por livros, viu um cartaz dizendo que a obra era top 1 de vendas e comprou-a para me fazer uma surpresa. Ele nem sabia do que se tratava e, ao ler a contra-capa, depois de tê-lo comprado (oi?), ficou achando que eu me decepcionaria com o livro. Ele pensou que era algo religioso, piegas, que ia me causar tédio.
Então, recebi o livro como recebo todas as surpresas que ele me faz: feliz da vida e completamente derretida.
Comecei a leitura sem amarras, sem preconceitos, sem julgamentos. E que bom que fiz assim!
Se formos pensar no livro como ficção, ele é ótimo: prende o leitor, traz desdobramentos inesperados, é bem escrito e envolve muito quem o está lendo. Não pensei na obra de maneira religiosa, e sim de maneira racional: o livro não diz nada que a lógica e a racionalidade não expressem. Não fala de fé cega, não tenta dar explicações absurdas para questões que ainda não temos capacidade de entender.
Conheço pessoas que leram o livro e conseguiram, depois disso, personificar Deus. Em mim, o efeito não foi esse. Até porque não tenho a menor necessidade de personificá-Lo. Para mim, o livro traz ensinamentos riquíssimos apara nos tornarmos pessoas melhores, mas sem aliar isso apenas à fé, à religião. Porque ser melhor vale para todos os credos e faz bem até para quem não possui religião alguma.
Não julgar (e os efeitos pavorosos que os julgamentos são capazes de produzir), perdoar e enfrentar a cabana da nossa vida (que são os medos, os arrependimentos, as frustrações e nossas dúvidas) é encarar de frente o que nos impede de ir adiante, de viver mais leve, de ser plenamente feliz, de apostar nos relacionamentos e de aproveitar a beleza das pequenas coisas da vida.
Porém, nota-se que o livro é extremamente comercial e foi escrito com o objetivo de virar um longa metragem hollywoodiano. E, quando percebo isso, chego a ficar irritada, porque acho que os leitores acabam sendo apenas cobais, usados mesmo, como um simples meio de o autor chegar ao seu objetivo real.
Em resumo, não li o livro pensando em religião, mas tentei lê-lo como uma ficção que acaba trazendo ensinamentos super válidos para quem está aberto a eles. E, para mim, como todo livro que leio me ensina alguma coisa, esse não foi diferente de nenhuma outra obra que li. Ensinou-me coisas, lembrou-me de outras, proporcionou bons momentos e envolveu-me pra caramba!
Em alguns momentos, acabei meio incomodada porque o livro tomava formas de obras de auto-ajuda, das quais eu fujo sem olhar para trás. Mas, fora isso, valeu a pena.
A contra-capa é exagerada
Na contra-capa, as frases “esta história deve ser lida como se fosse uma oração” e “você vai querer partilhar este livro com todas as pessoas que ama” são super exageradas.
Pelo menos em mim, esse livro não teve esse efeito, longe disso. Recomendo, até, mas não acho que é imprescindível a leitura, como digo de Ensaio Sobre a Cegueira, Castelo de Vidro, Para Sempre Alice e algumas outras obras que li esse ano.
E a história, é sobre o que?
Ela conta a vida de um homem atormentado com a morte de sua filha, que foi sequestrada por um maníaco e morta de maneira cruel em uma cabana. Após algum tempo vivendo lado a lado com a Grande Tristeza (nome dado ao sentimento que se instalou na sua vida após a perda), ele recebe um bilhete pedindo que retorne para lá. Esse bilhete é assinado por Papai (que é o nome carinhoso que sua esposa costuma se referir a Deus). O homem, é claro, acha tudo muito estranho, mas não aguenta de curiosidade e aceita o convite. E é então que a história começa pra valer. Deus estará lá mesmo? Era uma armadilha do assassino? Só lendo para saber!
E é aí que começamos a rever conceitos que sempre soubemos, mas dos quais nos esquecemos ao longo da vida. "O amor e o perdão são um alívio maior para quem oferece do que para quem recebe" é um deles.