Tainá 17/12/2023
Em cada página há algo doloroso e cruel sendo relatado. A guerra não tem rosto de mulher aborda uma realidade quase que ignorada (uma vez que, sim, a história, as artes e a cultura e tudo ao nosso redor voltam os olhos às figuras masculinas): a presença massiva de mulheres na guerra — jovens recém-saídas da escola, donas de casa, mães, trabalhadoras, profissionais altamente qualificadas, mulheres das aldeias, mulheres dos centros urbanos… —, também elas tornaram-se, como que da noite para o dia, franco-atiradoras, médicas/enfermeiras, mecânicas de guerra… Cozinheiras, lavadeiras e costureiras no front.
Apesar de referirem com louvor terem alistado-se voluntariamente para servir a Pátria (resultado provável da implacável propaganda stalinista), seus depoimentos sobre a lavagem de uniformes repletos de bichos, o cheiro de sangue nas ruas e nas florestas, de aviões a voarem a poucos metros acima de suas cabeças, dos anos sem verem seus filhos e parentes, das perdas e lutos sem tempo e espaço para serem sentidos, são contados num pós-guerra que pouco as abraçou: chegaram a receber medalhas e honrarias, mas eram, por exemplo, mal vistas para um casamento. Passaram a sofrer de doenças crônicas, perderam as suas casas ou não eram mais reconhecidas por seus filhos e pais. E é duro pensar que seus filhos, netos e bisnetos hoje vivem a guerra instaurada em 2022 na Ucrânia...