rxvenants 24/01/2019Palavras não descrevem a magnitude do tombo que levei ao ler esta coisa maravilhosaPreciso dizer algo antes de resenhar para eu poder prosseguir em paz: QUE LIVRO, MEUS AMIGOS!
Apesar de Patrick Ness ser, aparentemente, bem famoso, eu nunca tinha ouvido falar de suas obras e quando achei esse livro no fundo de uma pratileira de uma loja que vende livros por 10 reais e li a contra capa, não sabia realmente o que esperar sobre a história dele.
Não li as informações nas abas até o final do livro, pois realmente não queria nenhuma informação a mais do que era me apresentado no exterior do livro. Eu queria ser surpreendida por ele e OH BOY, WAS I SURPRISED.
O livro é extremamente bem construído e te deixa apreensivo na medida certa. Os personagens são ótimos e nem por um momento senti que não foram bem apresentados ou evoluídos.
A escrita do autor te carrega pra dentro do livro e as nove horas seguidas que levei pra lê-lo passaram em um piscar de olhos.
A representatividade colocada no livro me pegou de surpresa e eu nunca estive tão feliz por isso.
É muito comum ver escritores fazerem o combo finais trágicos + personagens LGBTQ+, mas com esse livro é muito natural.
Seth passou sim por coisas terríveis e teve sim momentos péssimos que envolveram seu Gudmund, mas por nenhum momento me pareceu forçado ou me pareceu que Patrick tivesse usado-os apenas como ferramentas pra preencher cota.
Tudo tinha um motivo e a colocação de Seth como homossexual era apenas uma apresentação da pessoa que ele era. Não foi pra chamar público, era apenas uma parte dele.
A colocação de Regine, uma jovem negra e gorda, de uma forma tão poderosa também me deixou bem feliz.
Sobre a história, eu sinceramente não tinha A MENOR IDEIA e NENHUMA TEORIA sobre o que poderia estar acontecendo com Seth em sua pós-morte até seu encontro com Regine e Tomasz e o rumo meio Matrix que o autor decidiu tomar foi totalmente inesperado.
Eu nunca teria imaginado que teria uma distopia ali no meio.
Existe um debate ao decorrer do livro entre "está tudo na cabeça do Seth" x "é a vida real" e enquanto escrevo a resenha, ainda não tenho minha opinião formada. Seth nunca teria imaginado personagens como R e T ou um mundo on-line permanente, mas como tudo que ele pensava sempre aparecia/acontecia?
A cena final com o Motorista e o último devaneio de Seth quando morreu me deixa pensando bastante sobre a influência dele em sua própria história.
(Aliás, a misteriosidade do Motorita também me deixa pensando bastante e com certeza também fez parte dos melhores personagens, apesar de nunca dizer uma palavra.)
O último livro que teve um debate parecido de vida real x fantasia foi The Outsider, do Stephen King e honestamente os dois são ótimos no quesito em suas próprias maneiras.
Talvez a única coisa que eu não tenha gostado foi a decisão de Seth de voltar para o mundo virtual, talvez consertar sua morte e ficar viajando entre on-line e real, pois num livro com questões tão reais, às vezes a melhor maneira é apenas seguir em frente.
Porém, não posso dizer que não faria o mesmo caso tivesse a chance.
Se ele faz parte de um mundo que o permita isso e se essa é realmente a única realidade dele, por que não? É o único mundo que ele conhece, afinal.
Enfim, o livro me fez sentir bastante. Chorei com a exclusão e rejeição que Seth sofreu depois do acidente com Owen e depois de suas fotos vazarem.
Apesar não gostar nada da mãe dele (principalmente depois de basicamente julgar Seth depois saber que o filho era gay), muitas vezes me coloquei na pele dela sobre o ela teve que passar (e o pai de Seth merece todo o amor do mundo SIM).
Me irritei com Gudmund por estar com Monica, mas senti pena quando Seth percebeu que ele dava seu próprio corpo para fazer os amigos se sentirem melhores.
Adorei a relação de Regine e Tommy e saber que ela estava sendo para ele a mãe que ela mesma tinha perdido nas relações com o padrasto abusivo, assim como ele via ela como a mãe que perdeu para contrabandistas, fez tudo mais doce.
Enfim, sinceramente não há palavras pra dizer como amei esse livro, os assunto que ele aborda e o questionamento da falsa ou não realidade. Nunca imaginei que um abuso infantil, um assassinato e um suicídio (palavras de Tommy!) poderiam ser tão agridoces.