Livros da Julie 31/01/2021Um olhar realista e amoroso sobre Londres e seus costumes-----
O livro é composto dos seguintes textos:
- As docas de Londres
- Maré da Oxford Street
- Casas de grandes homens
- Abadias e catedrais
- "Esta é a câmara dos comuns"
- Retrato de uma londrina
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"cada produto no mundo foi examinado e classificado segundo seu uso e valor."
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"Somos nós - nossos gostos, modas, necessidades - que fazemos os guindastes mergulhar e oscilar, que chamamos nos navios do mar."
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"O encanto da Londres moderna é ser construída não para durar, é ser construída para passar."
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"podemos tornar a pedra e o tijolo tão transitórios quanto nossos próprios desejos."
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"A mera ideia da idade, da solidez, da permanência através dos séculos é detestável para Oxford Street."
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"essa rua espalhafatosa, alvoroçada e vulgar lembra-nos que a vida é uma luta; que toda construção é perecível; que toda exibição é vaidade."
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"o que pode fazer o gênio e o amor contra insetos, tinas de banho e bombas no porão?"
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"Os dias de poder pessoal de homens isolados terminaram."
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"A intimidade é um dos caminhos para o silêncio."
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Cenas Londrinas é o décimo sexto livro do projeto #Virginiando2020, promovido pela @naneandherbooks (@virgi.niando). Trata-se de uma coletânea de textos publicados bimestralmente em uma revista entre dezembro de 1931 e ao longo de 1932, com o objetivo de traçar um panorama da Londres moderna.
Sobre As docas de Londres, a autora fala das mais diversas embarcações que visitam o porto londrino e destaca a incongruência do que existe às margens do Tâmisa. Armazéns decrépitos, fábricas e lixões em alguns locais; belas construções, igrejas, cúpulas, torres e toda a imponência da cidade em outros. Virginia também vê beleza em cada movimento da gigantesca engrenagem portuária e nos convida a admirá-la sob nova perspectiva. O incessante ritmo do descarregamento de mercadorias provê insumos do mundo inteiro aos ingleses e fornece as maravilhas que suportam o estilo de vida moderno. Contudo, esse infatigável comércio cobra seu preço além-mar.
A autora segue para Oxford Street, onde destaca a transformação dos insumos que chegam ao cais nos produtos lá vendidos. As promoções, os carrinhos de flores, os mágicos de rua, a venda de tartarugas, as tragédias nos jornais, a multidão que lota as calçadas, carros e ônibus pela rua: essa insólita combinação estranha e fascina. Firmas, salões, arquitetura e luxo são um banquete para os olhos. Mas a fragilidade das construções, amplamente criticada, apenas ressalta a transitoriedade da sociedade moderna.
De lá, Virginia nos leva a um passeio pelas Casas de grandes homens, que foram transformadas em museus, e nos mostra um outro lado da moeda. É possível conhecer mais da vida dessas pessoas e formar um retrato de sua personalidade, temperamento e caráter apenas sabendo em que cadeiras se sentavam, que escrivaninhas utilizavam ou com que escreviam. Pequenos detalhes da vida doméstica, como a falta de aquecimento ou de água encanada, contam mais sobre eles e o que enfrentaram em vida do que qualquer biografia. Depois desse texto, nunca mais visitaremos essas casas com os mesmos olhos.
Entre belas e singulares descrições de Abadias e catedrais, Virginia faz uma reflexão sobre a passagem do tempo e suas consequências na paisagem urbana. Muito mudou nos arredores das igrejas nos últimos séculos, como também mudou radicalmente o modo de vida. Até os enterros não possuem mais a pompa de outrora. Na verdade, nem vivos nem mortos conseguem o sossego e o alívio que gostariam e esperariam ter nesses templos religiosos.
A autora também nos apresenta a Câmara dos Comuns", mais um dentre tantos prédios públicos tradicionais. No entanto, o ritual de entrada dos representantes é imbuído da solenidade necessária a se reconhecer que ali se exerce um direito há muito conquistado pelo povo de ter sua parte na definição dos rumos do país. Apesar da importância das questões debatidas, a algazarra causada pela grupo mostra que estamos diante de pessoas comuns, apenas um pouco mais ricas ou bem formadas. Porém, é esta coletividade que conduz a máquina pública, nesse ambiente cada vez mais democrático, que se sobrepõe a personalidades individuais. Chegará o dia em que a posteridade não verá a criação de novas estátuas, pois o sistema não mais depende de pessoas específicas, capazes de grandes feitos, para a tomada de decisões.
Arrematando a obra, Virginia constrói o Retrato de uma londrina, descrevendo a casa e os hábitos de uma típica habitante da classe média da cidade. As conversas, as fofocas e os chás nos dão um vislumbre tão forte dos costumes da sociedade da época quanto todos os textos anteriores.
O livro ainda contém um adendo com os bastidores da elaboração dos textos, incluindo a cronologia das visitas feitas para a coleta das informações, bem como um índice das personalidades e dos lugares citados. Cenas Londrinas é uma grande homenagem à cidade e uma janela para satisfazer parte da nossa curiosidade sobre o vibrante passado dessa metrópole.
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