Thiago Fernan 18/01/2017
Tão rico e tão pobre...
Umas das premissas neste livro é o de "se reinventar", "quebrar preconceitos" para atingir novos conhecimentos e experiências. Nessa perspectiva, tentei me livrar dos preconceitos que eu já nutria pelo trabalho romancista de Augusto Cury. Preciso deixar claro que sou admirador de suas ideias, de modo que a contribuição acadêmica nos âmbitos nos quais o autor estar inserido são inegáveis. Augusto Cury é sim um pensador notável nos dias atuais.
Todavia, mesmo estando de braços abertos para este livro tão aclamado, não posso esconder a minha decepção com os aspectos literários. Ouso dizer que se o manuscrito deste livro fosse repassado a alguma editora, tendo o seu autor no anonimato, dificilmente ele seria publicado. Isso para não falar nos erros de ortografia e de edição que encontrei.
Os fatos são inverossímeis - isto é, é difícil conceber muitas das cenas na vida real. Há presença de inúmeros flashbacks que tornam a leitura quebrada e não linear. Os personagens são dotados de uma superficialidade incríveis. Isso evidencia-se na mesa de debates: os dois cientistas ateus e os dois religiosos são tão mal aprofundados e concordantes entre si, que em certos momentos o leitor se esquece que o tema principal do livro é tratado com tanta "polêmica", "ineditismo", "revolução" e tem a intenção de colocar duas partes antagonistas em confronto: razão x fé.
O livro apresenta muitas das ideias de Augusto Cury. Todavia, a quantidade de metáforas presentes de cabo a rabo tornam a leitura maçante e cansativa. O autor pinta os conflitos da mente humana de um modo tão romântico que esquece de apresentar as reais ferramentas para que o leitor faça essa viagem introspectiva tão prometida.
Sob o ponto de vista acadêmico, ao analisar a formação da inteligência de Jesus, Cury esquece de apresentar passagens bíblicas efetivas que sustentem todo o debate. Boa parte da apresentação dos personagens bíblicos (Lucas, Paulo, Maria, Jesus) se dá por meio de sonhos que os personagens da trama têm. Onde estão as evidências concretas onde os "renomadíssimos" acadêmicos da trama se sustentam?
De modo geral, acredito que Cury engrandeceu demais a sua própria busca ao tratar do "homem mais inteligente da história" sob a ótica das ciências humanas. As suas conclusões não fogem tanto assim do que o próprio Novo Testamento apresenta. É bem verdade que tratar de conceitos e teses da psiquiatria no "cru", numa primeira ocasião, não despertará a curiosidade dos leitores para ideias tão ricas. A proposta de Augusto Cury em trazer isso na forma de romance é uma tarefa de fato desafiante. Mas, após a leitura desta obra, sou levado a não gostar partindo da ótica literária. Também poderia discorrer ainda mais sobre o livro. Mas finalizo dizendo que o que fica de positivo desta leitura, infelizmente, é bastante utópico.