pitypooralfie 27/08/2023?Às vezes, precisamos fugir para não morrer?
Gosto muito de como a Elena Ferrante toca em temas não muito usuais da vida cotidiana. Este é o terceiro livro dela que leio e de novo encontro assuntos como maternidade, memória e alteridade discutidos de forma mais crua e, às vezes, chocante.
Achei a construção da Leda fascinante. A cada camada encontrada, conforme ela se revelava como uma boneca russa complexa, e conforme o livro progredia e a conhecia mais, eu sentia mais afeição por essa personagem tão humana e tão real.
Achei muito interessantes também os momentos em que a Leda discorre sobre linguagem e pertencimento, os sentimentos que ela transmite em relação a sua família napolitana e como pensei nas vezes em que senti coisas parecidas em relação a certos familiares.
?Que bobagem pensar que é possível falar de si mesmo aos filhos antes que eles tenham pelo menos cinquenta anos. Querer ser vista por eles como uma pessoa e não como uma função. Dizer: sou sua história, vocês começam comigo, escutem, pode ser útil.?
A filha perdida também me fez pensar na minha relação com a minha mãe de formas que eu não tinha parado para pensar. Em como já me distanciei dela e nas vezes em que, fascinada, encontrava em mim ecos dela, coisas que às vezes me exasperavam e se colaram a mim, talvez desde que seu corpo me expeliu há mais de vinte anos.
?Uma mãe não é nada além de uma filha que brinca?
Assim como com amor amargo, este livro tão curto e cheio de peculiaridades e discussões incríveis e profundas me trouxe reflexões que vou carregar comigo por um bom tempo, pensando em como a Leda me deixou fascinada com sua honestidade brutal, na idealização da Nina e sua relação com a filha, os motivos da subtração da boneca, os acontecimentos polvilhados em momentos diversos, entre outras coisas.
?As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender?
Com este livro, Elena Ferrante se torna uma de minhas escritoras favoritas, e eu fiquei com uma imensa vontade de ler absolutamente tudo dela. Acho fantástica a sensação que temos quando um livro conversa com recantos que a gente pensou deixar quietinhos, no fundo de nosso ser, e quero sentir essa sensação de chacoalhada mais vezes. Sinto-me outra pessoa.