spoiler visualizarMatheus Alves Carmo 12/09/2020
Tensão e mistério
"Aquilo que não enxergamos pode se tornar ainda mais perverso, porque a imaginação tem o dom de fazer o homem decifrar os seus maiores medos, em gênero e forma."
Esse foi o primeiro livro que lembro de ter lido em horror cósmico (ou, mais especificamente, o primeiro mais abertamente inspirado na obra 'Lovercraftiana'), mas pelo pouco que conheço do gênero, a parte da estranheza e loucura foram bem efetuadas.
O horror cósmico é um gênero da ficção que nos insere em mundos que contém seres cósmicos além da compreensão do ser humano. Seu escritor mais conhecido é H.P. Lovercraft, tão conhecido por suas obras no gênero que seu nome já remete a um gênero literário em si.
Mas voltando ao livro, a história segue um esquadrão de elite que atua na região da Bahia, e se depara com um caso estranho em uma pequena cidade, e partem pra investigar. Lá, acabam descobrindo ainda mais mistérios inexplicáveis.
O terror é uma ótima parte do livro, apesar das oscilações que cito mais na frente. É bem trabalhado em sua maior parte e trás muito do "medo do desconhecido" e "além da compreensão humana" presentes nesse estilo.
A história no geral é boa, apesar de eu ter ficado com uma impressão de que faltava mais substância, e algumas coisas não serem respondidas com muita clareza. O ponto de virada no final da história (sobre a origem dos seres) é bem interessante, apesar de que podia ser melhor trabalhado.
A melhor parte do livro pra mim foi a história dos donos da mansão. Adinâmica da parte da mansão em si me lembrou muito jogos de terror, onde estamos em um local evitando monstros é descobrindo pistas sobre a história (e o final nos trás algo interessante sobre isso).
Meu primeiro problema com o livro foi seu estilo narrativo. Não é algo exatamente ruim, mas me causou muita estranheza, os diálogos não pareciam muito claros, alguns eram expostos na narração, outros subentendidos, e era fácil eu me perder durante os longos parágrafos.
O ritmo foi meu segundo ponto de estranheza, ele começa muito rápido, depois se torna muito lento, acelerando bastante no final, principalmente com as explicações. O terror teve ótimas partes, mas em momentos diferentes do livro ele era abordado de forma diferente: começa como algo que pode ser ou não sobrenatural, depois nos mostra de cara uma criatura monstruosa, depois aborda mistérios como a cidade inabitada, que cria uma grande tensão é um terror mais psicológico, depois mostra os monstros de vez, depois cria uma tensão mais contida na mansão, com os arquivos é criada uma expectativa para um horror cósmico maior, mas acaba não sendo assim, é um clímax acabando bem rápido e facilmente.
Os personagens também não são tão bem trabalhados, na verdade, os melhor trabalhados são os falecidos da família. David tem um certo background, e Lívia uma pequena pincelada. Esta que inclusive foi meio injustiçada de não ter tanto foco quanto poderia, e nem aparecer ao final.
Uma parte a se notar no livro é o belo trabalho gráfico, não só da capa, mas de ilustrações, que imitam até jornais.
Os pontos positivos, pra mim, indicam ao menos que é um livro pra se dar uma chance. É uma leitura fluída, e de um autor nacional, o que é ótimo para todos nós.