O Xará

O Xará Jhumpa Lahiri




Resenhas - O Xará


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Oseas.Carlos 23/05/2020

" A Literatura dos Estados Unidos sempre foi imigrante"
O título dessa resenha, extraída do material complementar da TAG Experiências Literárias, relata a história de uma família indiana que passa a viver nos Estados Unidos. O texto relata a diversidade entre os pais, nascidos e criados na Índia até o casamento arranjado, e filhos nascidos nos EUA, os quais têm a possibilidade de ter uma vida completamente nova, apesar das interferências de sua cultura original.
A escrita da autora indiana é dotada de sensibilidade e leva o leitor a compreender parte da cultura de ambos os países e entrar na pele dos personagens.
Gógol, o "XARÁ" do escritor russo Nikolai Gógol, é o protagonista e possui vergonha do seu nome, dado por seu pai. Ao longo da história ele irá compreender o real significado de seu nome e fará o leitor ter afeto pela leitura e todo seu contexto, além de fazer com que torçamos para que o livro nunca chegue ao seu final.
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@gezaine_ 28/03/2020

É o segundo livro que leio da autora e mais uma vez me encantei com sua escrita. Um belíssimo romance de formação, simples, sensível e tocante.
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Rafa 09/03/2020

Reflexo de uma vida real
A vida real é muito mais do que "felizes para sempre", na verdade muito pelo contrário.

Quando lemos um romance, de modo inconsciente buscamos a solução mágica e ideal para todos os problemas enfrentados pelos protagonistas da estória, mas isso não é uma regra intransponível.

Em "O Xará" acompanhamos a trajetória da família Ganguli em terras americanas, desde a chegadas d,
os pais Ashoke e Ashima, até o nascimento e crescimento dos filhos Gógol e Sônia.

Entre encontros e desencontros, perdas e conquistas, nos deparamos com situações desconfortáveis, tais como o descontentamento com um nome, a perda inesperada de um ente querido, traição amorosa e desentendimentos familiares. Mas entre tantos reveses, era possível ler e valorizar consideravelmente cada instante de felicidade, mesmo que fossem tão efêmeros.

Assim é a vida real, devemos nos preparar para todos os imprevistos e acidentes, para que possamos valorizar os momentos de desafogo, que moram nos mais singelos instantes de paz.
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Cleberson 24/02/2020

Para repensar sobre o que constitui nossa identidade
É o primeiro livro que leio dessa escritora filha de indianos e não poderia ter tido melhor impressão! Ela capricha muito na descrição de detalhes, seja sobre as pessoas ou sobre os ambientes. E não fica nenhum pouco cansativo, pois em cada momento ela explora uma característica diferente e as vezes até inusitada. Mal posso esperar para ler o outro livro dela que tenho aqui na minha estante!

Sobre o livro, "O Xará" chega a ser quase uma autobiografia, pois mostra as diversas dificuldades que as pessoas que emigram para países de culturas muito diferentes enfrentam. O livro mostra o peso que os nomes pessoais carregam e como eles exercem uma forte influência sobre nossa construção individual. Na cultura bengali, as pessoas recebem 2 nomes: um é o "daknam", que é o que apenas familiares e pessoas íntimas usam entre si; o outro é o "bhaloman", usado como identificação no mundo externo. Esse último chega a ser dado bem tarde, apenas quando as crianças são matriculadas na escola.

Mas no mundo ocidental não existe nada disso e uma criança precisa receber um nome antes de deixar o hospital. Meio no improviso, pois tinham adiado essa decisão, os pais Ashima e Ashoke, de origem indiana e que agora vivem nos Estados Unidos, decidiram batizar seu filho recém nascido como Gógol Ganguli, nome inspirado no escritor russo Nikolai Gogol (escritor do conto "O capote", citado no livro e que já li há alguns anos). O que vem depois disso vale muito ser conferido! "Tente lembrar para sempre [...] Lembre que você e eu fizemos essa jornada, que fomos juntos a um lugar de onde não havia mais lugar algum para ir".
Renata Firmino Wanderley 08/10/2020minha estante
Oiii! Se você tiver interesse em vender o livro me fala, por favor! Quero muito essa edição da TAG e tá esgotada na loja ?




Jaina 25/01/2020

Lindo e triste.
O nome e o significado dele para a formacao da identidade de um filho de imigrantes nos EUA... A dor, os dramas e a insegurança humana... O livro é mais ou menos sobre isso.
Surpreendentemente bom!
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Mariana 11/01/2020

Encantador
Até ler O Xará, nunca tinha chorado ao ler um livro.
Um leitura que me deixou muito emotiva por dias.

No início, fui conhecendo aos poucos a cultura Bengali e a gastronomia indiana. Adorava ler os pratos típicos informados pela a autora como os baklava, samosas e rossogollas.

Achei o livro muito calmo quando a família de Gógol – personagem principal –, chegou aos E.U.A. Não aguardava grandes acontecimentos. Entretanto, assim que Gógol atinge a adolescência, tudo muda. Seus amores, sua negligência e certo desprezo com sua origem Bengali é algo como 'não sei o que esperar da vida'.

Apaixonei-me ao ler a construção de Gogól como um homem. Antes, um rapaz um pouco tímido e aborrecido que após anos se torna um homem mais confiante. Ademais, ele se dá conta que negar as origens é algo que sempre fez e que, por fim, se arrepende aos poucos.

Assim como Gogól, aprendi com essa leitura que nada na vida é certo ou predestinado.

Nota: Existe uma adaptação cinematográfica para esse Livro. No Brasil, é chamado de 'Nome de Família'. O título original é 'The Namesake'. Contudo, não é um bom filme.
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Matheus945 18/08/2019

Vale o trabalho todo que dá
Acabei de terminar a leitura e desceu uma lágrima que eu nem sabia que estava lá assim que li a última frase. A sequência de acontecimentos na vida do Gogol/Nilhil, que na maior parte são trágicos, vão moldando sua personalidade confusa.
Não consegui dar 5 estrelas pois em certos momentos eu fiquei realmente entediado com a escrita da autora, não tem nem uma "farofa" no meio tipo um diálogo pra dinamizar a leitura. Fica sempre na mesma nota do narrador onisciente. E fiquei entendiado por volta de 2/3 do livro, mas chegando na última parte eu não conseguia parar, mais pelos acontecimentos do que pela escrita em si.
Voltando pro protagonista, é muito interessante ver como ele se comporta sobre as origens dele, em maior parte do tempo renegando à elas mas chegando no último capítulo ele já está aceitando e vi um certo arrependimento da parte dele por algumas atitudes que teve. E tem muitos outros pontos que são interessantes, como os relacionamentos que ele tem durante a vida, especialmente a última, que tem um papel crucial na vida dele.
É um livro incrível e carregado de muitos pontos de discussão que se eu escrevesse tudo aqui ficaria gigante, mas, por hora é isso.
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Jacqueline 22/07/2019

Dos imigrantes de segunda geração e dos sentidos dos nomes próprios
A vivência da imigração na segunda geração é potencialmente mais intensa do que na primeira geração, pois o processo inicial da construção da identidade se dá em meio a essas contraposições (por vezes, choque) culturais.
Mas talvez a prova mais cabal de que somos constituídos pelos outros, pelas relações que vamos estabelecendo e pelos sentidos que vamos construindo é nosso nome:
como algo que nos singulariza tanto e que, de um jeito ou de outro, nos acompanha durante a vida toda, pode nos ser dado por outros?
Renata Firmino Wanderley 08/10/2020minha estante
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Jacqueline 16/01/2021minha estante
Oi Renata, infelizmente não tenho interesse em vender não. Espero que vc já tenha conseguido comprá-lo.




Carol | @carolreads 11/07/2019

O Xará
Sempre escutei falar muito bem desse livro mas não esperava curtir tanto! Achei a escrita da Jhumpa Lahiri muito gostosinha... já coloquei outras obras dela na listinha de desejos.

Em O Xará vamos acompanhar um período da vida de Gógol Ganguli, um americano filho de imigrantes indianos que ganhou esse nome graças a duas coisas: a conexão que seu pai sentia com o escritor russo Nikolai Gógol e a total falta de conhecimento de sua família dos costumes americanos.

Achei o livro muito envolvente... ao longo da narrativa, Gógol terá de lidar com o choque de culturas e com o constante sentimento de não pertencimento, afinal, apesar de americano foi criado nos costumes indianos. Além disso, estava tão presa na escrita da Jhumpa que fiquei com raiva do protagonista diversas vezes pela maneira como ele agia e fiquei super feliz quando ele finalmente passou a entender - e admirar a coragem - de seus pais.

Como já tinha comentado anteriormente não assino a Tag Livros regularmente, pego esporadicamente alguns livros que eu tenho certeza que vou gostar e que vão sair um pouco da minha zona de conforto. Além de ser superado as expectativas, essa edição de O Xará está MARAVILHOSA! Parabéns para a TAG!
.
E aí... quem já leu algum livro da Jhumpa Lahiri? Qual deles deveria ser minha próxima leitura?

site: https://www.instagram.com/carolreads
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Vani Vaninha 24/06/2019

Dois dedos de prosa sobre O Xará, de Jhumpa Lahiri.
O xará conta a história de Gógol Ganguli, um jovem em busca de sua própria identidade. Nascido nos Estados Unidos mas filho de pais indianos, Gógol fica dividido entre seguir a cultura do país onde nasceu ou a cultura de seus pais.

À medida que cresce, Gógol, querendo se distanciar da cultura tradicional indiana, se afasta da família de todas as formas que consegue, enquanto busca se inserir cada vez mais no modo de vida americano, até que um determinado evento (que, é claro, eu não vou contar) faz com que Gógol comece a repensar suas relações, seu modo de vida, seus sentimentos em relação a tudo com que sempre esteve em conflito desde a infância.

A temática do livro é super interessante embora a leitura tenha empacado um pouco, principalmente na primeira metade, mas depois melhorou. Apesar disso, é um livro que vale muito à pena ler.
Renata Firmino Wanderley 08/10/2020minha estante
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Vani Vaninha 08/10/2020minha estante
Oi! O livro não era meu. Peguei emprestado só para ler e logo devolvi.


Renata Firmino Wanderley 08/10/2020minha estante
Está bem.. Obrigada pela atenção! ?


Vani Vaninha 09/10/2020minha estante
De nada! E boa sorte com a busca.




Natália | @tracandolivros 01/06/2019

O xará
Gógol Ganguli tem um nome russo, e um sobrenome indiano e é naturalmente americano. Seus pais são naturais da Índia, e logo após o casamento se mudaram para os Estados Unidos. O costume indiano é que a pessoa mais velha nomeei os filhos novos da família, e quando sua mãe estava grávida, mandou uma carta a sua avó pedindo nomes para a criança, porém essa carta nunca chegou. Assim na saída do hospital o pai dele o nomeia Gógol, seu autor favorito, sendo apenas seu nome temporário, até que chegue seu “nome bom”. O problema acontece na diferença das culturas, onde na indiana, eles registram seus filhos quando eles vão entrar na escola, já na americana a criança não sai do hospital sem dar parte no registro. Então para a surpresa dos pais, o nome de criação do seu filho acaba sendo o seu nome de registro, e essa não era a ideia deles.

Depois de todo esse problema, Gógol acaba passando por vergonhas conforme cresce, porque todo mundo pergunta o porquê daquele nome russo se ele é indiano, e quando mais velho perguntam se é daquele autor de “O Capote”. Assim, Gógol cresce odiando seu nome e sem sentir que ele pertence a ele, já que é o nome de outro.

Durante o livro vemos a vida de Gógol desde o seu nascimento até o seu amadurecimento. Neste livro encontra-se muito sobre a cultura indiana, isso foi o que me deixou mais encantada, porque é uma forma leve e fácil de aprender, e me permitiu viajar apenas estando sentada lendo. Também tem muito do medo de ser imigrante, e não conhecer a cultura, não saber como se portar e nem se vai conseguir se adaptar à ela. A saudade da família, que mesmo em visitas longas não é suprimida. Um livro sobre crescimento, sobre superar as dificuldades e procurar sua própria identidade.

site: https://www.instagram.com/p/Bf0zIo5gB3k/
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none 16/04/2019

Sensação estranha
Li essa estória porque no ano passado enquanto ingressei no clube de livros da TAG experiências literárias sempre observei críticas favoráveis, sendo um dos mais indicados dentre todos os livros recomendados pelos curadores. Eu não fazia parte da TAG quando o livro foi lançado, e ele estava esgotado no site do clube, procurei na estante virtual e encontrei em um sebo, por um valor bastante inferior ao cobrado pela TAG, sem a caixinha, a revista e o presente, mas em perfeito estado de conservação. Praticamente novo.
Não sou indiano, a cultura desse país e o idioma (os vários idiomas muito além do inglês oficial) são estranhos, mas me fascinam. O livro da Thrity Umrigar "A distância entre nós'' foi uma grata surpresa, e este "O Xará'' não foi diferente. Porque é um romance doce, discute um tema caro a literatura e a cultura atual, o feminismo (que não é o contrário do machismo, como muita gente apregoa), o multiculturalismo e o choque de gerações, culturas e países diferentes, temas também discutidos nos livros de Chimamanda Ngozi Adichie (o livro me recordou Americanah). Ok, o personagem é um homem, nascido nos EUA de pais bengalis indianos que saíram da Índia por motivos profissionais e pessoais (matrimônio). Esse protagonista chamado Gogol é cercado por mulheres, seja a mãe, a irmã, namoradas, esposa, e a autora dá voz a essas personagens. O drama pessoal por vezes curioso, por vezes trágico de Gogol tem esse tom familiar, carinhoso, que, muitas vezes estranhamos a forma como o protagonista enxerga o mundo, ele é um homem, tem suas preferências e sua vida particular não tão diferente de outros homens, mas ele é concebido sob o ponto de vista feminino. Se por um lado, não vemos o comportamento característico de um homem, não vemos o que somos habituados a ler sempre que deparamos com um escritor contando a vida de um personagem masculino da adolescência ao mundo adulto, isto é, clichês, e isso é um grande ponto para Jhumpa Lahiri. A literatura está saturada de autores homens contando em via de regra as mesmas coisas sobre a vida contemporânea sem a criatividade necessária para motivar a leitura. Não se trata de uma generalização, Mia Couto, por exemplo, tem o dom de contar belamente estórias de mulheres negras, sendo branco e homem. Gogol não gosta do nome que o seu pai lhe deu em homenagem ao escritor Nikolai Gogol e passa a usar outro nome para tentar fugir de um destino similar ao autor russo-ucraniano. Livro muito bem escrito, ótima estória, boas: tradução revisão e edição da TAG, Biblioteca azul. Recomendo.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 25/02/2019

Jhumpa Lahiri - O Xará
Editora Globo, Biblioteca Azul - 344 Páginas - Tradução de Rafael Mantovani - Capa: Adriana Bertolla Silveira (Female Infanticide, de Rani Jha) - Lançamento: 01/06/2014.

Jhumpa Lahiri nasceu em Londres, filha de indianos, contudo sua família se mudou para os Estados Unidos quando ela tinha apenas dois anos. O seu livro de estreia, uma coletânea de contos lançada originalmente em 1999 com o título de Interpreter of Maladies (publicado no Brasil como Intérprete de Males), foi vencedor do Pulitzer Prize de ficção e do Ernest Hemingway / PEN Award, duas premiações concedidas em 2000. Em 2003 lançou seu primeiro romance, The Namesake (traduzido no Brasil como O Xará). Dez anos depois, em 2013, foi finalista dos prêmios Man Booker Prize e do National Book Award com o romance The Lowland (lançado no Brasil como Aguapés). Atualmente, Jhumpa Lahiri mora na Itália com o marido e os dois filhos e passou a escrever e publicar apenas na língua italiana. Toda a sua obra trata da adaptação cultural de imigrantes indianos vivendo no exterior, tendo, portanto, muito de autobiográfico.

Gógol Ganguli é o protagonista de O Xará, filho de pais imigrantes bengalis que se mudaram de Calcutá para os Estados Unidos nos anos sessenta em busca de melhores oportunidades de trabalho. Depois de um casamento arranjado pelas famílias, o casal jovem e inexperiente encontra muitas dificuldades para se estabelecer longe de seu país natal, Ashoke é professor universitário de Cambridge e Ashima uma dona de casa que sente mais os efeitos da solidão, eles buscam conviver com outras famílias de imigrantes e manter os costumes religiosos e culturais de seus antepassados. Um desses costumes é o procedimento para escolha do nome dos filhos, segundo a tradição todos têm o direito a um nome "bom" (geralmente escolhido pela pessoa mais velha da família) e um nome de "criação" bengali, conforme o trecho abaixo:

"Além disso, sempre existem os nomes de criação como solução provisória: uma prática da nomenclatura que atribui dois nomes para toda e qualquer pessoa. Em bengali esse nome de criação é o 'daknam', que significa literalmente o nome pelo qual se é chamado por amigos, parentes e outras pessoas íntimas, em casa e em outros momentos de descontração. Os nomes de criação são um resquício persistente da infância, um lembrete de que a vida nem sempre é tão séria, tão formal, tão complicada. Também são um lembrete de que uma pessoa não é a mesma para todas as outras. Todos eles têm nomes de criação. O de Ashima é Monu, o de Ashoke é Mithu, e mesmo quando adultos, esses são os nomes pelos quais são conhecidos em suas respectivas famílias, os nomes que os outros usam quando os adoram, quando os repreendem, quando os amam e sentem sua falta. [...] Todo nome de criação é acompanhado de um nome bom, um 'bhalonam', usado como identificação no mundo externo. Consequentemente, os nomes bons aparecem nos envelopes, nos diplomas, nas listas telefônicas e em todos os outros lugares públicos." (Pág. 37)

O parto de Ashima acaba sendo antecipado e surpreende o casal ainda sem ter escolhido o nome do filho, como o bebê precisa ser registrado antes da saída do hospital, Ashoke, o pai, decide registrá-lo com um nome de "criação" inspirado no escritor russo Nikolai Gógol, uma fixação literária de sua juventude que se tornou ainda mais forte quando ele foi resgatado milagrosamente de um violento acidente ferroviário devido ao fato de ter acenado para o grupo de resgate com o resto das páginas do livro que estava lendo no momento do choque repentino. Como se não bastassem os conflitos de identidade vivenciados por um filho de pais imigrantes, o nosso protagonista ainda terá que lidar com este "pequeno" problema adicional, um nome que não encontra nenhuma semelhança na terra de seus antepassados, assim como no país em que nasceu, um sobrenome russo que se torna o seu nome nos registros oficiais de nascimento, para eventualmente ser modificado quando houver uma decisão quanto ao seu nome "bom". No entanto, o tempo passa, a carta da avó de Ashima se perde com a sugestão do nome e o protagonista permanece como Gógol Ganguli por toda a infância e adolescência.

"Pois a essa altura, ele passou a odiar perguntas relacionadas a seu nome, odeia ter que explicar o tempo todo. Odeia ter que dizer às pessoas que não significa nada 'em indiano'. Odeia ter que usar um crachá preso ao suéter no dia das Nações Unidas na escola. Odeia inclusive assinar seu nome embaixo de seus desenhos na aula de artes. Odeia que seu nome seja tanto absurdo quanto desconhecido, que não tenha nada a ver com quem ele é, que não seja nem indiano nem americano, mas justamente russo. Odeia ter que conviver com isso, com um nome de criação transformado em nome bom, dia após dia, segundo após segundo. Odeia ver esse nome no envelope de papel pardo da assinatura da 'National Geographic' que os pais lhe deram de aniversário no ano anterior e eternamente presente na lista de estudantes de destaque impressa no jornal da cidade. Às vezes seu nome, uma entidade sem forma e sem peso, consegue mesmo assim incomodá-lo fisicamente, como a etiqueta áspera de uma camisa que ele foi obrigado a usar para sempre." (Pág. 95)

O casal Ganguli tem mais uma filha, Sonia, que assim como Gógol não se interessa pelas questões de tradição e cultura familiares. Muito a contragosto eles são levados pelos pais para passar temporadas em Calcutá onde se sentem inadequados entre os familiares como se fossem meninos americanos. Esta negação da história familiar — e do próprio nome — permanece por toda a juventude de Gógol que tentará oficializar a mudança de seus registros oficiais para Nikhil Ganguli (um procedimento relativamente simples nos Estados Unidos). Com o amadurecimento, Gógol (ou Nikhil como ele passa a ser conhecido a partir da faculdade) entenderá melhor os sentimentos dos pais, fazendo as pazes com sua origem bengali.

Um romance sensível e muito bem escrito sobre uma história de vida comum, como tantas outras que, ao descrever os conflitos de identidade e inadequação dos personagens, certamente irá mexer muito com o lado emocional de filhos de imigrantes de qualquer nacionalidade que reconhecerão muitas das questões e dificuldades vivenciadas por suas famílias para conseguir se inserir em uma nova cultura, sem esquecer de suas raízes.
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Paulo Sousa 19/02/2019

O xará, de Jhumpa Lahiri
Lista #1001livrosparalerantesdemorrer
Livro lido 2°/Fev//8°/2019
Título: O xará
Título original: The Namesake
Autor: Jhumpa Lahiri (GBR)
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Companhia das Letras
Ano de lançamento: 2003
Ano desta edição: 2004
Páginas: 336
Classificação: ???????
__________________________________________
"Isso não existe. Não existe um nome perfeito. Acho que deveria ser permitido aos seres humanos escolherem o próprio nome quando completam dezoito anos. Antes disso, pronomes" (pág 252).
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Em "O xará" acompanhamos a trajetória de mais de 30 anos de Gógol Ganguli, filho de pais indianos, ora egressos aos Estados Unidos. Sendo o primeiro filho do casal, Gógol, apesar de americano de nascimento, é, desde pequeno ensinado no doutrinamento, nos costumes e na língua do país de origem de seus genitores.
.
O romance tem uma temática interessante, onde a escritora britânica Jhumpa Lahiri tece com maestria os resultados do choque cultural e identitário vivido por Gógol. A todo momento ele tenta se desvencilhar de suas raízes, procura assumir uma identidade americana, inclusive abolindo de seu círculo social o nome pelo qual o seu pai, Ashoke, o batizou, uma referência ao seu escritor predileto, o russo Nikolai Gógol. Para Gógol não é fácil sair da sombra de sua origem indiana, ele constrói uma nova imagem de si próprio, mas, ao perder o pai, ver seu casamento desmoronar e viver uma crise existencial, Gógol percebe que é inevitável acabar se apoiando no seio familiar, esse alicerce sempre presente e de onde buscou fugir sempre. O livro é uma ode de amor àquilo que somos. Vale!
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Te 30/01/2019

Cativante
Que livro lindo! Uma narrativa cativante que mostra o sujeito sem lugar no mundo, pois enquanto não der conta da sua história, das suas resistências, não conseguirá fazer laços duradouros e que o conectem consigo mesmo! E também porque a ideia de um lugar para retornar, um lugar para chamar de seu é subjetivo e não diz de nenhum limite geográfico
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