spoiler visualizarZelinha.Rossi 19/02/2017
“Eram coisas para as quais era impossível se preparar, mas que faziam alguém passar uma vida inteira relembrando, tentando aceitar, interpretar, compreender. Coisas que nunca deveriam ter acontecido, que pareciam descabidas e equivocadas, eram essas que prevaleciam, que duravam, no fim das contas”. “O xará” é um livro sobre auto aceitação, reconhecimento, pertencimento no mundo. Trata da história de Gógol Ganguli, um americano filho de pais indianos, cujo nome é uma homenagem ao autor russo Nikholai Gógol, autor de “O capote”, conto que o pai de Gógol, Ashoke, lia no momento em que o trem no qual viajava descarrilhou e que, de certa forma, lhe salvou a vida. Conhecemos a história de Ashima e Ashoke, indianos que se mudam para os Estados Unidos em função dos estudos, e, posteriormente, do trabalho de Ashoke como professor universitário. Em uma outra terra, eles criam uma vida própria, longe da família e estranhos aos tão diversos costumes americanos. E precisam lidar com a nacionalidade de seus filhos, Gógol e Sonia, criados em uma cultura diferente e adeptos desta, alheios aos costumes dos pais.
Ao longo da obra, acompanhamos o crescimento de Gógol – primeiro como uma criança amável, depois como um adolescente revoltado com a estranheza do próprio nome (cujo significado ele só conhece muitos anos depois), o que o leva a alterá-lo para Nikhil. Mesmo após a mudança do nome, Gógol não consegue mudar suas origens e, embora morando em outras cidades e visitando os pais muito raramente, tentando entranhar-se o máximo possível no universo americano (como quando morou com a família de uma de suas namoradas, Maxine), é só após a repentina morte do pai que ele se volta para a família. Por ironia do destino, acaba casando-se com uma indiana, Moushumi, também disposta a negar-se como tal, um casamento que, afinal, não dá certo. Gógol é, portanto, uma pessoa em constante busca de si mesmo: algo que ele não encontra nem com a mudança do nome nem com o casamento, mas através do tardio reconhecimento de suas origens familiares. Essa busca e esses constantes desencontros, entremeados com apresentações da cultura e dos hábitos indianos, são os pontos altos da obra.