none 16/04/2019
Sensação estranha
Li essa estória porque no ano passado enquanto ingressei no clube de livros da TAG experiências literárias sempre observei críticas favoráveis, sendo um dos mais indicados dentre todos os livros recomendados pelos curadores. Eu não fazia parte da TAG quando o livro foi lançado, e ele estava esgotado no site do clube, procurei na estante virtual e encontrei em um sebo, por um valor bastante inferior ao cobrado pela TAG, sem a caixinha, a revista e o presente, mas em perfeito estado de conservação. Praticamente novo.
Não sou indiano, a cultura desse país e o idioma (os vários idiomas muito além do inglês oficial) são estranhos, mas me fascinam. O livro da Thrity Umrigar "A distância entre nós'' foi uma grata surpresa, e este "O Xará'' não foi diferente. Porque é um romance doce, discute um tema caro a literatura e a cultura atual, o feminismo (que não é o contrário do machismo, como muita gente apregoa), o multiculturalismo e o choque de gerações, culturas e países diferentes, temas também discutidos nos livros de Chimamanda Ngozi Adichie (o livro me recordou Americanah). Ok, o personagem é um homem, nascido nos EUA de pais bengalis indianos que saíram da Índia por motivos profissionais e pessoais (matrimônio). Esse protagonista chamado Gogol é cercado por mulheres, seja a mãe, a irmã, namoradas, esposa, e a autora dá voz a essas personagens. O drama pessoal por vezes curioso, por vezes trágico de Gogol tem esse tom familiar, carinhoso, que, muitas vezes estranhamos a forma como o protagonista enxerga o mundo, ele é um homem, tem suas preferências e sua vida particular não tão diferente de outros homens, mas ele é concebido sob o ponto de vista feminino. Se por um lado, não vemos o comportamento característico de um homem, não vemos o que somos habituados a ler sempre que deparamos com um escritor contando a vida de um personagem masculino da adolescência ao mundo adulto, isto é, clichês, e isso é um grande ponto para Jhumpa Lahiri. A literatura está saturada de autores homens contando em via de regra as mesmas coisas sobre a vida contemporânea sem a criatividade necessária para motivar a leitura. Não se trata de uma generalização, Mia Couto, por exemplo, tem o dom de contar belamente estórias de mulheres negras, sendo branco e homem. Gogol não gosta do nome que o seu pai lhe deu em homenagem ao escritor Nikolai Gogol e passa a usar outro nome para tentar fugir de um destino similar ao autor russo-ucraniano. Livro muito bem escrito, ótima estória, boas: tradução revisão e edição da TAG, Biblioteca azul. Recomendo.