spoiler visualizarpampamcviana 05/01/2024
Começando 2024 com 5 estrelas
Há 6 anos atrás, em 2017, classifiquei este livro como 5 estrelas. No início de 2024, após minha releitura, continuo com a mesma opinião. Então já inicio esta resenha concluindo: é claro que indico este livro!
Uma das primeiras coisas que noto é a escrita limpa e fácil de entender, mesmo assim nada simples. A forma que a autora usa para nos prender na narrativa é muito inteligente. Não tenho histórico de imigração, sou brasileira vivendo próxima da minha família no Brasil, não sofri um choque de cultura, mas, ainda assim, não consegui não ter empatia pela família do personagem principal, Gógol. Na verdade, é mais do que isso: senti reconhecimento. Afinal, qual ser humano no mundo nunca se sentiu não pertencente a algo ou a algum lugar? Quando fomos totalmente seguros de que estamos no lugar certo, na hora certa, no caminho certo? Deve existir, mas acho difícil achar alguém assim. Eu mesma, sem sair do meu estado (Minas Gerais), senti um choque quando me mudei da capital para o interior. Em vários momentos me senti vivendo escolhas erradas. Não me senti pertencente à profissão que exerço. Jhumpa foi muito inteligente ao levantar esta questão, apesar de que esta é sua questão central de vida, pois a história foi baseada na dela, britânica filha de imigrantes indianos vivendo nos Estados Unidos. É para se orgulhar da vida desta mulher! Ainda quero ler mais livros dela.
Outro assunto que me chamou a atenção foram as ironias sutis e levantamentos de paradigmas. A começar pelo nome do personagem principal: Gógol. Ele é americano, a origem da sua família é indiana, mas seu nome é russo. De um autor russo reconhecido pela ironia de seus contos tragicômicos. E a escolha do daknam, o qual logo virou seu nome bom, foi tragicômica desde o início. Até gostaria de saber onde a carta da avó do Gógol foi parar. Teremos esta eterna curiosidade a respeito. E, na pressão americana, seu pai não preparado resolveu homenagear um autor russo que o salvou, se podemos dizer assim, de uma morte trágica. Como diz Ashoke, ele nasceu duas vezes, e nas duas este nome esteve envolvido. É bonito para o pai. Detestável (e, depois, aguentável), para o filho. Irônico, certo? Se for pensar, neste ponto até o pai sai da cultura indiana, ao escolher um nome sem significado e de origem russa. Quando passamos a pensar sobre Sonia, a irmã de Gógol, ela tem mais sorte, mas ainda assim seu nome bom acaba não sendo de origem indiana. Na verdade o é, mas até os pais preferiram simplificá-lo, e ela acaba sendo chamada por um apelido, que também não faz parte das práticas bengali. O ser humano possui muitas nuances. E chega um certo momento que é melhor não pensar, somente fazer. Novamente irônico.
Outra coisa que me chamou a atenção foi a riqueza de detalhes da cozinha indiana. Após tanta descrição de comida não comum para mim, já me vi procurando no Google restaurantes indianos para experimentar a samosa acompanhada de um chá. Como cozinhar está totalmente ligado a rituais, é interessante perceber a tentativa de se manter uma tradição versus absorver tradições novas de outro país, como a comemoração do Natal e do dia de Ação de Graças. A cozinha acaba sendo adaptada para agradar a todos, e é uma mistura de cultura no paladar, assim como o é em todos os outros quesitos da vida deles.
Pararei minha resenha por aqui na tentativa de evitar spoilers. A história é linda do início ao fim, e espero que você, assim como eu, se emocione e se divirta com a leitura e todos os seus detalhes.