Luciano Luíz 28/06/2017
O que mais gosto de ler é poesia. Não importa se é de um poeta brasileiro, inglês, português, japonês, argentino, estadunidense, francês ou qualquer outro país. Pois pra mim a poesia é o estilo que agrega tudo o que podemos pensar. Não importa o que o autor queria dizer, passar, mostrar, revelar, ocultar. A poesia é a forma suprema de escrita. Tá certo que há quem a divida em gêneros e subgêneros. Tem quem diz que somente a poesia acadêmica, ou então algo erudito pode ser levado em consideração e tido como arte literária.
Quando sai um novo livro de CHARLES BUKOWSKI meus olhos brilham e o coração acelera, afinal, ali ele se distancia de toda a viadagem literária. Não há aquele momento culto onde a formalidade se faz presente e te deixa feito um pato lendo aquelas palavras empilhadas. Não, ali não. O velho Buk desde jovem adotara um estilo popular. Suas palavras saem naturalmente. É como poder ouvir alguém que sabe realmente o que está dizendo. Prende a atenção mesmo que o assunto seja comum, do dia a dia falando sobre a relação de amor e sexo ou então sobre o serviço e depois ir pro bar e beber até cair.
Não é qualquer um que faz isso com qualidade. E o velho safado era mestre nesse quesito. Há outros escritores que seguem o mesmo estilo, mas de uma forma que não fascina com o mesmo impacto.
Sua poesia cheia de sexo e desejo de ser reconhecido como um gênio da escrita soa como a melhor das canções quando a gente precisa de algo que nos mostre que a realidade também é repleta de fantasia.
Em SOBRE O AMOR, Buk nos brinda com poemas que não são somente o ato deste sentimento, mas com toda a carga do mundo real mesclando sua vida às palavras consideradas obscenas como pau, cu, xota, buceta e por aí vai. Fala em trepar, em fidelidade e todo aquele romantismo barato que assim mesmo a gente tanto quer em nossas vidas.
Tem quem fala que os poemas bukowskianos em verdade passam muito longe da poesia. E que são apenas contos ou crônicas com diagramação de poemas. Isso pode até ter sentido, mas eu mesmo vejo ali muita, mas muita, muitíssima poesia, ainda que seja considerada ordinária por tantos. Buk poemizava o real sem desvalorizar os sentimentos. Ele conseguiu algo que outros ainda hoje procuram e não sabem que porta abrir para colocar em palavras o que há no coração. Ele se revela e também oculta uma sabedoria impecável do homem comum. Do homem que vemos todos os dias na rua. Do homem e também da mulher.
Buk podia ter seus defeitos, como beber até tombar e então se transformar causando danos a si e a quem mais perto estava. No entanto, bebendo ou não ele era um gênio na construção narrativa, seja em poesia ou prosa. Seus romances são fortalezas implacáveis e ao lado dos contos, crônicas e poemas possui uma obra de respeito que dificilmente poderá ser a vir superada.
Este livro contém vários poemas conhecidos e outros inéditos. Tem alguns desenhos do Buk e uma ou outra foto também já vista. Pela capa dá a impressão de que é só mais um livro de poesias melosas. Mas é algo que está muito além.
Poderoso, profundo, viciante. Sem dúvida este volume contém uma das melhores coletâneas do autor. Pra quem é fã declarado do velho, é mais que recomendando. Pra quem não conhece e quer algo bem diferente do padrão, é recomendando. E pra quem não curte a realidade com suas dores, então fique sem se aproximar.
Nota: 10
L. L. Santos
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