Maria Sena 12/06/2022
Incrível e marcante.
Nesse livro Tolstói expõe com humildade e sinceridade um período conturbado de sua vida. Aos 51 anos, já sendo nessa época um escrito aclamado, com seus dois grandes sucessos da literatura mundias, Ana Karienina e Guerra e paz, bem casado, segundo ele mesmo, grande proprietário de terras e pertencente a uma classe social abastada, porém passando por uma forte crise existencial beirando ao suicídio.
"Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, sem comer, sem dormir; mas não existia vida..."
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Nesta obra ele narra com detalhes sua busca incessante por respostas, recorrendo primeiramente à racionalidade e lógica. Estuda os grandes pensadores, como Schopenhauer, Salomão, Buda, Sócrates e outros, além de observar as pessoas de seu convívio social. Porém nada encontra a não ser mais perguntas e desespero. Então chegou a conclusão de que não deveria procurar uma saída entre os que, como ele, já tinham desistido.
"Será que essa situação de desespero não é inerente às pessoas? E procurava explicações para minhas perguntas, em todos os saberes que as pessoas adquirem... Procurava como um homem à beira da morte busca uma salvação - e nada achava"
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Diante disso humildemente se voltou para os camponeses pobres, aqueles que tinham tão pouco, sofriam tanto e mesmo assim encontravam sentido para prosseguir dia-a-dia. Encontrou ali a FÉ em Deus e teve um reencontro com sua própria fé, a tanto tempo abandonada. Nela encontrou apóio e sentindo. O livro Uma confissão é considerado por muitos o relato de sua conversão ao cristianismo.
"Pela fé, concluí-se que, para entender o sentido da vida, eu devia renunciar à razão, exatamente ela, necessária para o sentido da vida."
"Eu já não estava na situação em que me encontrava na juventude, quando achava que tudo na vida estava claro; assim, cheguei à fé porque, fora da fé, eu não encontrei nada, rigorosamente nada, senão destruição."
"A essência de qualquer fé consiste em que ela dá à vida um sentido que a morte não destrói "
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Tolstói tentou durante um tempo se engajar na igreja ortodoxa Russa, porém passou a fazer severas críticas à algumas de suas práticas, como por exemplo, perseguições políticas, intolerância, punições capitais e consentimento de guerras. Não à toa foi excomungado em 1901.
"E eu, que supunha que a verdade estava na unidade do amor, não pude deixar de ficar chocado ao ver que a própria doutrina destrói aquilo que ela deveria promover"
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Que surpresa a minha ao descobrir que ele trocava correspondência com Gandhi.
É um livro pequeno em páginas, mas de uma profundidade e honestidade sem tamanho. Traz questionamentos sempre presentes ao longo da história da humanidade, narrados de forma tão sincera e simples.
"O que fazer, o que fazer?, Pergunto a mim mesmo, e olho para cima. Para cima, também é um abismo. Olho para o abismo do céu e tento esquecer o abismo de baixo e, de fato, esqueço. O infinito de baixo me repele e me apavora; o infinito do alto me atrai e me sustenta".