Douglas 17/07/2017
Quem não escuta o chicote, respeita o facão.
Munido com chicote e facão, Marcos deBrito vai rasgar de forma brutal o véu que cobre um período da história brasileira, e revelar o que teve de mais sádico e cruel ali, prepare seu estomago.
A história tem como plano de fundo o Brasil colônia, no ano de 1792, período escravocrata. E revela o que se passou na Fazenda Capela, onde escravos trabalham arduamente num canavial, ao lado de capatazes. Ali, vive a família do senhor Cunha Vasconcelos, que possui dois filhos. Estes, são o extremo oposto. Enquanto um “cuida” dos escravos com mãos de ferro e insultos e surras, o outro, que voltou recentemente da Europa, tem uma visão diferente das coisas e passa a julgar esses atos. Ele cria um elo com os escravos, e dizer que essa relação é errada, pode ser considerada eufemismo, diante do que ele pode descobrir.
Os fatos vão sendo expostos, no desenvolver do livro, e vamos descobrindo o quanto essa família é misteriosa.
O escravo recém chegado Sabola, quer escapar não somente dessa fazenda, mas de todo seu constante sofrimento e humilhação, e vai mostrar o quão disposta está a fazê-lo.
Se você acha que uma morte desumana é um fim cruel, te convido a conhecer o que esse livro tem a oferecer. E você vai descobrir, que a morte pode ser só o principio para algo mais impiedoso.
VALE A LEITURA?
O livro retrata uma época real, em sua pior forma, muitas vezes omitidos em livros de história, justamente por sua crueldade. O período escravo que vimos na escola, nos é de fato revelado. A frieza com o qual a violência é revelada causará repúdio até nos leitores com estômago mais forte. Esses registros não causam arrepios somente pela história de terror, mas pela frieza que descreve as punições acometida aos escravos, e pela forma desprezível na qual eles eram tratados. Mesclando elementos reais e fictícios, a trama conversa diretamente com nossa cultura, através de personagens folclóricos.
Antes de nos entregar o terror, o autor cria todo um cenário, e vai moldando as características de cada personagem. Assim, é possível sem ambientar melhor com a atitude destes.
O autor não mata personagens a esmo. Cada um terá seu momento (ou não) e ele soube dosar esse recurso, dando um propósito, ou encaixando um motivo válido a morte, deixando o leitor ainda mais apreensivo. Vale ressaltar, os diversos plot twists que aqui serão encontrados. Tente antecipar os fatos, e veja como vai falhar miseravelmente.
O autor usa diversos recursos linguísticos, o que enriquece ainda mais seu texto. Ao invés de dizer que um fato foi “terrível”, prefere pegar a mão do leitor, e colocá-lo cara a cara com os fatos e o que vamos presenciar é horrível.
O capricho que a Faro teve com a edição dispensa comentários, mas merece destaque.
Essa junção de fatores, pesaram na obra e o autor consegue segurar o leitor apreensivo até suas ultimas páginas. É aquele livro que você termina, e precisa contar pra alguém sobre ele, e claro, recomendar a leitura.