Vanessa Vieira 01/07/2018
A Desconhecida - Mary Kubica
O livro A Desconhecida, da autora best-seller Mary Kubica, nos traz um thriller psicológico interessante e repleto de camadas, com algumas revelações bem impressionantes e enigmáticas. Apesar da história ter sido desenvolvida de uma forma inteligente e com ares bem mirabolantes, o grande mistério da trama não me surpreendeu tanto quanto eu gostaria, mesmo tendo admirado todo o clímax do enredo.
A humanitária Heidi pega o trem de Chicago todos os dias para ir até o seu trabalho, localizado em uma ONG que auxilia refugiados e pessoas em situações de risco. Durante uma de suas inúmeras viagens, ela fica profundamente comovida com uma adolescente que paira em uma das estações acompanhada por um bebê, sofrendo com a fome e o frio intenso. Compadecida com a situação, Heidi resolve acolher Willow e a pequena Ruby em sua casa, mesmo contra a vontade do seu marido e da filha adolescente, que não simpatizam nada com a ideia.
Arisca e taciturna, Willow é de poucas palavras e não se abre de jeito nenhum, dando a sinistra impressão de que está escondendo algo sério ou até mesmo fugindo de alguém. Mesmo diante de uma postura tão arredia, Heidi segue alheia ao perigo de abrigar uma completa desconhecida em seu lar e logo se afeiçoa com a pequena Ruby, contrariando a desconfiança de seu marido, Chris, e da filha, Zoe, que acreditam que a jovem sem-teto é nada mais do que um foco de problemas...
A Desconhecida nos trouxe uma história carregada de tensão, adrenalina e suspense. Capítulo após capítulo, temos uma nova peça do quebra-cabeças que envolve os personagens e, conforme passamos a juntar as peças desta trama, fica cada vez mais difícil descobrir quem é o mocinho e o vilão da história. O enredo foi muito bem estruturado por Mary Kubica e conseguiu prender a minha atenção do início ao fim, entretanto, quando o grande mistério foi enfim revelado, confesso que eu esperava algo um pouco mais surpreendente. Narrado em primeira pessoa sob os pontos de vista alternados de Heidi, Willow e Chris, o livro se mostrou intrigante, enigmático e uma verdadeira crescente de mistério, mesmo com um desfecho não tão impactante.
Heidi é uma personagem que surge na história como uma mulher bondosa, ingênua e dona de um coração generoso, afinal, abrigar uma sem-teto desconhecida em sua casa é quase que um ato de santidade. Entretanto, com o avançar da história, muitas águas acabam rolando e percebemos quase que uma devoção da humanitária para com a jovem e o seu bebê, ao ponto dela largar o trabalho para se dedicar exclusivamente à elas. Pouco a pouco, vamos conhecendo alguns episódios do seu passado, como o fato dela ter tido um aborto e como isso lhe deixou um vazio imenso na alma. O seu ato de bondade para com Willow desencadeia uma verdadeira crise doméstica no lar, pois ela não quer encaminhar a jovem e a pequena criança para uma instituição de caridade e, pouco a pouco, o seu carinho e amor para com elas acaba adquirindo proporções cada vez mais sinistras. Chris, o seu marido, se ressente dia após dia com a atitude da esposa incauta e com os segredos intrincados de Willow, ao mesmo tempo em que Zoe, sua filha, se torna rebelde e parece esconder muitos problemas. Um dos pontos que também me desabonaram na trama foi justamente o desenvolvimento da filha da personagem, pois é visível no enredo que ela está passando por complicações que decide não dividir com ninguém e, mesmo assim, ela não teve um desfecho elucidador na trama.
A história de Willow foi uma das mais interessantes do livro, além de ter sido magistralmente conduzida do início ao fim. A personagem sofreu muito durante toda a sua vida e por conta disso, assumiu ares um pouco selvagens e reclusos para se proteger. O mistério que a circunda foi bem envolvente e surpreendente, além de trazer uma descaracterização inimaginável para o seu papel na trama. Cada uma de suas atitudes tem um motivo plausível dentro do enredo, mesmo que não sejam justificadas em sua totalidade e isso, de certa forma, contribuiu para a estruturação e construção da personagem.
Em síntese, A Desconhecida nos trouxe um suspense psicológico brilhante, bem arquitetado e com uma bruma de mistério envolvente, entretanto, com um desfecho que não fez tanto jus ao clímax da trama. Arrisco dizer que a autora tinha potencial para até mesmo chocar o leitor com a miríade de situações e fatos que povoam o enredo, entretanto resolveu optar por um caminho mais ameno, ainda que levemente intrigante e norteado por personagens imperfeitos e intrinsecamente humanos. A capa do livro nos traz o rosto de uma moça descascando em meio a uma parede de cimento, mostrando que nada é como realmente aparenta e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho e revisão de qualidade. Recomendo ☺
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