Cris 13/01/2021Cultura, História, Nigéria“O tanzaniano disse que ela sabia passar bem a atmosfera de Lagos, os cheiros e os sons, e falou que era incrível como as cidades do terceiro mundo se pareciam.” Pág.123
Este foi meu primeiro contato com a escrita da Chimamanda e já fiquei encantada. A autora é uma ótima contadora de histórias.
O livro é uma imersão na cultura africana, especialmente da Nigéria onde os contos se passam.
Este é o primeiro livro de contos da autora. Todos os 12 contos trazem histórias de mulheres vivendo em diferentes períodos da história nigeriana. Acredito que pra quem conhece melhor a história da Nigéria, muitos contos fazem mais sentido. Mas pra quem não tinha pré conhecimento da história deste país, como eu, só serve para aguçar a curiosidade sobre este povo.
Muitas destas histórias se passam também nos EUA, e acredito que foi a intenção da autora mostrar como é a vida dos imigrantes nigerianos que vão para lá.
Alguns temas são recorrentes nestes contos. Nós vemos os contrastes entre pobres e ricos. A posição da mulher na sociedade. A violência, a injustiça e a fome. A família, amor, homossexualidade. A religiosidade e a fé.
Eu amei a escrita da autora, ela apresenta contos tanto em primeira, terceira e até segunda pessoa. Adorei a forma como ela faz uma crítica que fica nas entrelinhas, ao nos mostrar histórias na maioria das vezes tristes e que nos fazem refletir, e que nos mostra uma realidade muitas vezes semelhante à nossa. Impossível não se identificar com os dilemas destes personagens.
Nem preciso dizer que todos os livros da autora a partir de agora fazem parte da minha lista de desejados.
A cela um - é a história de um jovem que é preso e que passa a contar para os familiares a realidade da prisão. Uma história crua e muito triste.
Réplica - a história de uma mulher que mora nos Estados Unidos com a família, enquanto o marido divide seu tempo entre a família, e a empresa na Nigéria. Narra bem o ponto de vista da esposa que se sente abandonada pelo homem que ama.
Uma experiência privada - Duas mulheres de etnias diferentes se abrigam em meio a uma onda de violência na cidade. Mostra os dois lados de religiões diferentes e vidas diferentes.
Fantasmas - um professor aposentado reencontra um velho colega que acreditava-se estava morto. Ele conta o seu lado da história, e como conseguiu sobreviver à Guerra. Uma história de muitas lembranças do passado.
Na segunda-feira da semana passada - uma mulher começa a trabalhar como babá em uma casa nos EUA e começa a imaginar uma nova vida para si. Tem um final bem melancólico.
Jumping Monkey Hill - Este foi um dos contos que mais gostei. Uma escritora está em uma workshop de escritores, e enquanto ela tenta lidar com os colegas participantes de diversos países africanos, vamos vendo um conto narrado dentro da história.
No seu pescoço - Este é o conto que dá título ao livro. É a história de uma jovem mulher nigeriana que vai tentar a vida nos Estados Unidos, porém, começa a questionar muitas coisas. Uma história contada de forma diferente, gostei muito.
A embaixada americana - em uma época de um governo totalitário, uma mulher tenta buscar asilo nos EUA, e vemos os seus pensamentos enquanto ela enfrenta a fila na Embaixada Americana. Uma história muito triste, que toca o coração.
O tremor - Este também está entre os meus favoritos. Uma mulher nigeriana que mora nos EUA recebe a visita de um homem que também é seu conterrâneo e eles desenvolvem uma amizade muito bonita em que ambos aprendem muito sobre o outro e sobre a vida.
Os casamenteiros - neste conto vemos a realidade de um casamento por conveniência. Ao mesmo tempo, também vemos como muitos imigrantes tentar apagar sua cultura para se misturar e se adaptar à cultura norte-americana. Muito bom.
Amanhã é tarde demais - Esta história é narrada em segunda pessoa e conta uma história que foi uma das que menos simpatizei. Uma mulher relembra a história de sua infância ao lado do irmão e do primo. Bem triste.
A historiadora obstinada - Este é um conto que se passa em uma época bem mais antiga, quando a Nigéria passou pela colonização europeia. Vemos os conflitos entre os clãs e como a religiosidade e costumes dos povos foram alterados. Muito bom também.
“Você não riu. Você não sabia que as pessoas podiam simplesmente escolher não estudar, que as pessoas podiam mandar na vida. Você estava acostumada a aceitar o que a vida dava, a escrever o que a vida ditava.” Pág. 131
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