A Leitora Compulsiva 29/11/2022
O universo te fez. Ele também pode te desfazer.
?Pois essa é a similaridade final ? Poe e Lovecraft são nossos dois gênios americanos da fantasia, comparáveis um com o outro, mas incomparavelmente superiores a todos que seguiram seu rastro.?
Preciso começar essa resenha com essas últimas palavras do editor do próprio livro porque é verdade.
Lembro que meu primeiro contato com um livro do Lovecraft foi lá em meados de 2016-17, em que propus uma leitura conjunta com um amigo do WhatsApp.
Nós começamos a ler Nas Montanhas da Loucura com aquela preguiça desinteressada pelo modo polido do Lovecraft escrever, mas me lembro muito bem que da metade do livro em diante, não parávamos de ler e teorizar o que poderia acontecer. E no final, ficamos escandalizados com a história.
Isso foi o suficiente pra eu me tornar uma grande fã do tio Craftinho; nunca na história da minha vida nenhum autor em particular me despertou tanta ansiedade lendo.
Depois de Nas Montanhas da Loucura, mergulhei em outros contos curtos dele que me deixaram igualmente chocada e tendo pesadelos horríveis. Talvez eu era sensível demais na época, vai saber. O ponto aqui é que ele conseguiu me marcar como eu não tinha sido marcada até o momento.
Agora, quase 5 anos depois, volto para ler um compilado completo do autor, a importância de cada uma dessas obras e a influência que o Lovecraft deu ao mundo, e eu só posso dizer uma coisa: foi uma jornada incrível. A forma como esse homem ajudou a moldar a literatura do terror, a forma como influenciou outros autores... Lovecraft realmente merece esse posto de mestre do terror assim como tantos outros da história literária.
Deixo de fora qualquer comentário sobre as partes racistas em suas obras. Gosto de pensar que 1900 era uma época de pessoas com mente fechada, e que se as pessoas daquela época tivessem nascido na nossa época atual, talvez teriam pensamentos melhores em relação a pessoas estrangeiras e diferentes deles. É óbvio que não apoio nenhum dos trechos claramente ofensivos que li, mas entendo que a época era dessa forma e não há nada que podemos fazer sobre isso. Lovecraft está morto. Da mesma forma, está suas crenças e valores.
E por último, gostaria de ressaltar que lendo esse compilado de histórias do Lovecraft reunidas pela Darkside, só me deu maior vontade ainda de mergulhar em outros contos que o mestre tenha feito. Esse horror abismal, essa insignificância humana diante do universo e a forma como Lovecraft nos faz lembrar que somos muito pequenos para o desconhecido lá fora... É simplesmente surreal e verdadeiro.
?São personagens que nos ajudam a lembrar da nossa condição, a olhar para o abismo e trazer à tona o medo primordial que nos garantiu a sobrevivência até aqui: o medo do desconhecido.?
Basicamente, o Tio Lovecraft nos bota em nosso lugar, apontando: "Tá vendo esse universo aí em cima que o sol e a lua atravessam todos os dias? Um dia, ele pode destruir a nós. Coisas sombrias e desconhecidas habitam os éons de escuridão sem fim que aguardam lá fora, apenas esperando o momento certo para intervir. Por isso, não pense nem por um segundo que você é superior a nada ou que está a salvo; ninguém está."
E ele nunca errou.
Obrigada, de verdade, Howard Phillips Lovecraft. A mensagem foi recebida com sucesso; eu nunca me deixarei esquecer.