Nath @biscoito.esperto 08/07/2018Eu amei esse livro de um jeito que eu sinceramente não esperava amar.
É inegável que a literatura LGBT+ está em alta atualmente. Muitos autores estão colocando personagens da comunidade queer em seus livros, e isso é incrível, mas também podemos notar com facilidade que a maioria dos livros LGBT+ tem protagonistas masculinos.
Eu consigo pensar em uns 10 livros LGBT+ em que o personagem principal é um menino gay se descobrindo e vivendo aventuras, mas eu preciso me esforçar para pensar em livros com meninas lésbicas ou bissexuais como protagonistas. Do topo da minha cabeça eu só me lembro de um livro, que ainda por cima nem é YA, mas de terror (A Menina Submersa, muito bom, recomendo!).
Então, quando eu soube que The Miseducation of Cameron Post seria publicado no Brasil, fiquei super animada. E eu não me decepcionei nem um pouco, mesmo a hype sendo grande. Aliás, queria parabenizar a tradutora pela excelente tradução do título.
O ano é 1989 e Cameron tem 13 anos. Ela tem uma melhor amiga, Irene (eu imaginava a Irene do Red Velvet enquanto lia, desculpa mundo), de quem é muito próxima. Próxima demais, talvez. Cameron sabe que gosta de Irene de um jeito diferente de amizade, e que não quer beijá-la apenas por que seria engraçado ou para treinar antes de beijar meninos. Mas, ao mesmo tempo, Cameron se sente culpada, como se seus desejos fossem algo ruim. Tudo piora quando ela de fato beija Irene e, logo em seguida, recebe a notícia de que os pais morreram num terrível acidente de carro. Cameron acha que isso é uma espécie de castigo divino.
O tempo passa. Cameron agora mora com a avó e a tia, duas mulheres muito religiosas, e divide seu tempo entre a igreja, a escola e as competições de natação e atletismo. E é nas competições de natação que ela conhece Lindsey, uma menina assumidamente lésbica que mora do outro lado do país. As duas se tornam grandes amigas e Lindsey de certa forma explica a Cameron o que é ser lésbica e como o mundo funciona.
Cameron agora tem 16 anos e se torna amiga de Coley Taylor (eu ficava pensando no Corey Taylor do Slipknot, oh god why). Cameron e Coley se conheceram na igreja, pois ambas suas famílias são religiosas. Coley é linda e tem um namorado, mas isso não impede Cameron de se apaixonar por ela. E, conforme a amizade das duas avança, parece que talvez Coley também esteja afim de Cameron.
Quando a tia religiosa de Cameron descobre o que está acontecendo ela não tem dúvidas: irá mandar Cameron para uma escola evangélica que supostamente irá curar sua homossexualidade.
Esse livro foi uma verdadeira jornada. Vimos Cameron crescer. Ela descobre e explora sua sexualidade de forma natural. Faz amizades muito importantes, com meninas e meninos. Ama sua família, mesmo com todos os problemas e com a homofobia, e sente a falta dos pais.
Cameron luta para manter sua identidade desde a primeira página do livro até a última, o que é algo massacrante de acompanhar. Mais importante, é algo real. Toda pessoa LGBT+ sabe como é ter que se reafirmar e manter sua sanidade num mundo que te julga a todo momento por coisas que você não pode controlar. Ninguém escolhe ser gay, ou bi, ou pan, ou trans, ou ace. Eu sei que eu não escolhi. Lutei contra esse lado meu por muitos anos por causa da heteronormatividade.
Eu me vi muito em Cameron, mesmo que nossas personalidades e vidas sejam tão diferentes. Eu queria ter lido esse livro quando tinha 12 anos, pois as coisas teriam feito mais sentido. Mas fico feliz por ter tido a oportunidade de ler agora.
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