Dhewyd 11/03/2022
Impactante.
Do término da leitura, há a sensação de desconforto por dentro, não é uma leitura fácil, considerando o tema bastante sensível, e todos os infortúnios que o nosso personagem principal sofre durante toda a sua vida.
Charlie Gordon, já nascera com problemas, um retardo mental dominante desde a sua infância, o fez crescer fisicamente, porém, aos 32 anos ainda tinha uma mentalidade de uma criancinha, o único emprego que conseguia desempenhar, era de limpeza em uma padaria, a qual contava com o bom coração do proprietário, para mantê-lo no emprego, mesmo sabendo de todas as suas limitações.
Sua família era bastante desestruturada, e o criara em um ambiente hostil, sua mãe não aceitava desde sempre que seu filho tivesse problemas, e fosse retardado, não queria que as outras pessoas vissem que ele era diferente, e assim, sempre o tratou como uma criança normal, exigindo que o mesmo aprendesse e desenvolvesse ações de uma criança “inteligente”, sendo que nosso protagonista não tinha capacidades mentais e motoras para isso, assim, sempre o castigava e ele vivia quieto pelos cantos com medo de levar uma surra a cada coisa errada que fizesse, como por exemplo fazer suas necessidades nas calças. Seu pai, era mais carinhoso, e aceitava a sua limitação, mas as brigas com a esposa eram crescentes, ainda mais que ele não queria que levassem Charlie em médicos charlatões que estavam consumindo todo o dinheiro da família em tratamentos que de certo não trariam resultados.
Em determinado momento de sua vida, Charlie descobre uma escola para pessoas com retardo, e decide estudar, pois ele deseja com todas as suas forças ser inteligente, para que as pessoas gostem dele, todos os seus poucos amigos, riem dele, gozam de sua limitação e fazem vários tipos de crueldade, mas Charlie não percebia que estavam rindo dele e pensava que estavam rindo com ele, que ele era querido e amado pelos amigos. Nesta escola ele tem a ajuda de uma professora, que logo percebe toda a determinação de Charlie em aprender e em querer ser inteligente, assim, o encaminha para um laboratório de uma faculdade, para que possa ser cobaia humana de um experimento único, o que tenta possibilitar que pessoas com deformidades cerebrais e cognitivas possam aprender e desenvolver rapidamente a inteligência.
Antes do procedimento, fora realizado vários exames e Charlie teve que conviver com Algernon, um ratinho branco de laboratório, a qual iria disputar com Charlie várias corridas de labirintos, sendo que em várias dele o rato se sobressaia e era mais inteligente. Charlie desejava muito ser mais inteligente que Algernon.
Com a realização da cirurgia, Charlie aos poucos passa a aprender, e esse “poder” o faz devorar livros, aprende vários idiomas, consegue ser um verdadeiro gênio, porém, toda a sua inteligência, o modifica como pessoa, ele passa a ser arrogante, autocentrado e borsal; coisas que o antigo Charlie não era, muito pelo contrário, seu eu antigo era puro afeto e carinho para com os outros. Essa nova personalidade, o faz ainda mais não ter amigos e afastar todos que ainda tentavam uma aproximação com ele.
Fica então os grandes questionamentos, como ter mais empatia com as pessoas que passam por esses problemas mentais, várias deficiências como perda da visão, ou dos movimentos, não são motivos para gozações e brincadeiras, porém, pessoas que não são tão inteligentes, sofrem gozações e são motivos de chacotas pelos próprios amigos. E ser inteligente demais sem humildade, também acarreta vários dessabores, a arrogância é motivo para levar a pessoa à ruína e degradação emotiva.
O livro é muitas vezes emocionante, a cada registro que Charlie escreve para o experimento, percebemos sua evolução, seus medos, seus traumas e seus anseios mais profundos, e a cada linha que ele escreve, a qual demonstra a aquisição de mais sabedoria, mas arrogante e autocentrado ele se demonstra. Um livro marcante, que sem sombras de dúvida muda o status de visão de mundo de seus leitores.