regifreitas 11/11/2023
ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES: PETRÓLEO, MORTE E A CRIAÇÃO DO FBI (Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI, 2017), de David Grann; tradução Donaldson M. Garschagen & Renata Guerra.
Na década de 1870, os nativos osages foram obrigados a se transferir de suas terras ancestrais no Kansas. A eles, o governo tinha destinado uma reserva árida e pedregosa em Oklahoma. Algum tempo depois, no começo do século XX, descobriu-se que aquelas terras, supostamente sem valor, abrigavam uma das maiores jazidas de petróleo dos EUA. De uma hora para outra, os osages se tornaram "a população mais rica do mundo em fortunas particulares", pois, "para prospectarem o petróleo, os interessados em explorá-lo tinham de pagar royalties e arrendamento aos osages".
Acabou se tornando comum membros da tribo osage serem proprietários de mansões e carros de luxo guiados por motoristas particulares. Muitos desses nativos, inclusive, mandavam os filhos estudarem nas melhores universidades do país e até na Europa. Essa opulência explícita despertou a inveja e a ganância de uma parcela da população local.
Na década de 1920, uma série de eventos trágicos se abateu sobre a tribo. Osages começaram a morrer sob diversas circunstâncias estranhas: assassinatos, envenenamentos, incêndios suspeitos etc. Muitos desses casos sequer eram investigados. Quando eram, as autoridades locais não se empenhavam muito em solucioná-los. Até que o número de mortes chegou a um número difícil de ignorar, o que chamou a atenção do governo federal.
O futuro FBI - pois ainda não era assim chamado, nem tampouco possuía a estrutura e a capacitação técnica que passaria a ter dali uns anos - acabou assumindo o caso, na figura do agente Tom White. Em pouco tempo, White descobriu um complô e uma conspiração envolvendo empresários, médicos, advogados, policiais e diversas autoridades da região. Envoltos em uma teia de corrupção e preconceito racial, essas pessoas visavam a eliminação dos osages, com o único objetivo de tomarem posse de suas terras e do tesouro que existia no subsolo.
David Grann nos traz aqui o resgate de um capítulo convenientemente esquecido da história estadunidense. Ele mergulha profundamente na investigação e nas consequências desses crimes. É um relato surpreendente, repleto de descobertas e reviravoltas, a ponto de, por vezes, parecer ficção, tal o absurdo de algumas das situações narradas.
Grann consegue prender a atenção do leitor desde as primeiras páginas. Foi um livro que devorei em poucos dias. E, certamente, estará entre as melhores leituras de 2023.
Recentemente esta história foi adaptada para o cinema pelas mãos de Martin Scorsese. Sendo Scorsese um dos meus diretores favoritos, já estou curiosíssimo para ver como ele transpôs esta história para a telona.