Assassinos da Lua das Flores

Assassinos da Lua das Flores David Grann




Resenhas - Assassinos Da Lua Das Flores


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Marcella.Martha 13/08/2018

"Se eu pudesse dava mais de mil." - Jeremias sobre estrelas para Assasinos da Lua das Flores
O famoso livrão da p****. Eu não sei se consigo colocar em palavras o quanto eu fui sugada para dentro dessa história, que é surreal, revoltante e tão escabrosa que chega a ganhar um quê de espetacular. Eu raramente leio livros de não ficção porque em geral acho (quase) todos muito chatos. Mas a forma como o David Grann conta a história dos assassinatos osages é incrível. Ele te mantém interessado do começo ao fim, destrincha em detalhes e vai apresentando os fatos cronologicamente, de forma que a figura completa (e terrível) vai sendo pintada aos poucos. É preciso chegar até a última página para ter uma noção real do que é a história contada em Assasinos da Lua das Flores.

E é inacreditável também que esse caso não seja mais conhecido. Não tem uma série, um filme, nada de muito destaque. O próprio Grann, que é americano, disse jamais ter ouvido falar da história na escola ou faculdade. Se liguem:

Entre o fim do século XIX e começo do século XX, nos Estados Unidos, a nação osage, uma das várias tribos indígenas que habitavam o país antes da chegada dos europeus, foi forçada a deixar a região que haviam habitado por eras. Como as terras eram obviamente muito propícias ao plantio, com clima ameno e ótima localização (por isso seres humanos ocupavam o lugar!!!), o governo decidiu que índios não deveriam ter direito a residir ali. A terra seria muito mais útil ($$$) nas mãos dos grandes empresários da agricultura e pecuária. Os osages foram então deslocados para um pedaço de Oklahoma que era considerado inóspito. Montanhoso, rochoso, não era fácil plantar nada lá e até a criação de gado era difícil. Em outras palavras, brancos não tinham nenhum interesse em habitar e desenvolver a região, portanto soquemos várias tribos indígenas por ali.

Supostamente, o governo deveria pagar pelas terras que os osages tiveram que desocupar, mas nunca fizeram isso, escolhendo pagar com "ração" (a farinha do Dória). O resultado foram índios desnutridos, mortos de fome, sem conseguir voltar às suas ocupações originais - que era exatamente que o governo queria. Quanto mais rápido eles morressem, melhor.

Até que os osages descobriram que a sua terra rochosa e abandonada era, na verdade, um imenso campo de petróleo. Imaginem, começo do século XX, o fordismo tomando conta dos EUA, e um bando de índios sentados em cima do ouro negro. Apesar de diversas arbitrariedades e injustiças absurdas cometidas por parte do sistema judiciário e do governo para dificultar o acesso dos osages à sua própria fortuna, a região - e os índios - prosperaram. As cidades cresceram e atraíram o interesse de todo tipo de gente - em especial do pior tipo, que é o homem-branco-ganancioso-protegido-por-um-sistema preconceituoso-e-disposto-a-tudo-para-eliminar-pessoas-de-cor padrão, em especial aquelas que ousam bagunçar o coreto da alta sociedade.

Os osages eram, no começo do século passado, a população mais rica do mundo. Tinham carros, mansões, propriedades, negócios, jóias. Seus filhos estudavam na Europa, circulavam em ambientes influentes, falavam várias línguas. Vocês podem imaginar como isso revoltava o ~~cidadão de bem~~ de outrora. A imprensa vivia em uma eterna campanha de indignação com o estilo de vida dos índios, que não era muito diferente do estilo de vida de outros milionários, em muitos casos até mais comedido. Mas ÍNDIOS, vejam só, com acesso a faculdades caríssimas e carros de última geração. Que absurdo! Até hoje a gente ainda lê coisas desse tipo por aí, imagina em 1900 e bolinha.

O resultado de tudo isso foram assassinatos em massa, complôs super complexos que envolviam quase todo mundo, desde os pobres bêbados, bandidos que circulavam na região, atraídos pela ideia de criminhos fáceis, até juízes, procuradores, membros do congresso e médicos que atendiam à população osage. Todo mundo empenhado em enganar, roubar e eliminar o máximo possível de índios ricos, transferindo a fortuna acumulada paras mãos de brancos através de falcatruas, fraudes e mais assassinatos, se preciso fosse. É surreal de verdade.

A investigação de uma parte desses assassinatos, que ficou conhecida como Reinado do Terror entre os osages, foi o primeiro grande caso de mídia nacional do recém-fundado FBI. E o trabalho de análise e investigação feito pelo autor do livro, David Grann, quase 100 anos depois, é tão espetacular quanto os dos agentes empenhados da época (os poucos que realmente se dedicaram a solucionar o caso. Spoiler: não foram muitos).

A triste saga de como os osages foram sendo dizimados através do século pode não ter ficado famosa, mas esse livro atraiu atenção suficiente para eu acreditar que, agora, finalmente, vão resolver dar holofote pro caso e deixar que, cem anos depois, a correção histórica seja feita para, pelo menos, trazer à luz essa imensa injustiça e crueldade. Não traz ninguém de volta e nem repara todo o pesadelo que aquelas pessoas viveram, mas oferece um pouquinho de justiça, ainda que tardia.

Um livro maravilhoso e que deveria ser lido por todo mundo. Especialmente no Brasil, onde nossos próprios índios são tão maltratados diariamente.
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