Barbara 19/05/2020
Qual o Preço da Liberdade de ser exatamente quem você é?
Falar sobe StepSister não é uma tarefa fácil. A primeira coisa que eu sinto necessidade absoluta de comentar é o trabalho incrível que foi feito na capa do livro, o que já te faz sentir o tom sombrio da história que será contada. Costumamos dizer que não se deve julgar o livro pela capa, contudo, em casos como desta obra, a capa é uma introdução e um atrativo que condiz muito com a realidade da leitura que Jennifer Donnelly propõe, além de ser belíssima.
StepSister, como se anuncia, é um livro de fantasia que se passa no universo dos contos de fadas. É protagonizado por Isabelle, uma das meias-irmãs de Ella - a quem conhecemos, popularmente, por Cinderela. Isabelle e sua irmã são retratadas em muitas versões do conto de Cinderela como as "irmãs feias", pois mesmo rodeadas de luxos, as irmãs sempre eram ofuscadas pela beleza e gentileza de Ella. Além dos personagens já conhecidos (a madrasta, as irmãs, Cinderela, o príncipe), somos apresentados a novas figuras, como as Irmãs Fate, responsáveis por escreverem os mapas do destino da vida das pessoas, Chance, que pode ser descrito como o antagonista às irmãs fate, uma vez que seu grande objetivo é fazer com que Isabelle tenha um desfecho melhor do que o previsto pelo destino, e Tanaquill, a fada madrinha que ajuda Ella a ir ao baile e também a pessoa a quem Isabelle recorre, acreditando que se a fada a fizesse bela, todos os seus problemas desapareceriam, mas é claro que não poderia ser assim tão simples. Além de seus problemas pessoais, a França está passando por um momento de guerra e acompanhamos o desenrolar desse conflito paralelo à Isabelle.
Se até aqui você está interessado em StepSister, precisa saber que é uma leitura com uma crítica social muito bem trabalhada. Para qualquer pessoa que reconheça os benefícios da beleza na sociedade, é muito perceptível que, apesar de se passar no século XIX, é uma obra extremamente atual. Acompanhamos, a cada página, a agonia de Isabelle e sua irmã Octávia, por não serem bonitas o suficiente para se casarem com o príncipe, mesmo que para isso tenham cortado partes de seu próprio corpo afim de calçar o sapato de cristal perdido por Ella na noite do baile. Porém, mais do que o sofrimento por não conseguirem o casamento, a história reflete constantemente em torno de todas as coisas em que o padrão de beleza interferia na vida das garotas, para o bem ou para o mal. Quantas coisas Isabelle e Octávia poderiam ser se não fossem apenas e simplesmente "feias"?
"Ella que é bonita. Você e eu somos as meias-irmãs feias. E, assim, o mundo reduz, nós três, ao nosso menor denominador comum"
É automático seguir a leitura relacionando-a com a nossa vida no século XXI. Muitas leitoras podem ter se visto na pele da protagonista por diversas vezes. Ou até mesmo na de Ella. Fato é que a aparência ainda dita comportamentos e oportunidades. StepSister nos leva a acompanhar Isabelle em suas descobertas sobre si mesma, na percepção de que ela não é apenas o seu rosto e ela pode muito mais do que arranjar um casamento por beleza, agradando aos olhos de algum homem, ou apodrecer em uma casa velha, como sua mãe a fazia acreditar.
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