Clube do Farol 08/08/2022
Resenha por Elis Finco @efinco
Amor em Minúscula é um livro único e traz uma ideia que não é nova, mas é escrita de uma forma divertida e, de certo modo, um tanto filosófica a respeito da solidão e de se sentir só. Com uma narrativa em primeira pessoa, Samuel nos conta a sua história, a partir da visão que tem de si mesmo e dos acontecimentos ao seu redor.
Como o nosso personagem é um professor de Alemão, ele acaba por compartilhar conosco aquilo que ensina a seus alunos e, também, torna a leitura interessante ao compartilhar alguma de suas leituras e conhecimentos musicais e cinematográficos, de um jeito leve, como em uma conversa e não de um jeito professoral.
Os diálogos no livro são, talvez, o grande diferencial, porque em alguns momentos são introspectivos e em outros a narração das interações de Samuel, tanto com o gato quanto com as pessoas. E de certo modo tem sempre um tom de estranhamento por tudo ser uma grande novidade a ele.
Confesso que “shippei” o casal mais provável, porém longe dos que Samuel ansiava, não consegui gostar da Gabriela em nenhum momento. O Valdemar é o típico louco inofensivo e o Titus aquela pessoa que nos faz olhar fora da situação para encontrarmos as respostas. Mas, sem dúvida, o “grande pequeno” personagem é o gato, que ganhou o nome de “Mishima” e entrou na vida de Samuel após decidir que ele seria seu humano, e foi o ponto minúsculo que alterou de forma grandiosa a vida do professor.
O fato de Gabriela ter feito parte da vida do solitário professor, 30 anos antes, e seu reencontro ter despertado nele o desejo de continuar de onde partiu; a necessidade de cuidar, de forma apropriada, do gato tem o efeito de despertar o desejo de não mais ser só e sim ser um bom amigo a seu vizinho e, se possível, conquistar o amor, que sempre esteve em sua memória, porém havia se perdido no tempo.
Mesmo em certos momentos ganhando ares quase filosóficos, o texto não fica chato ou cansativo, em especial por serem capítulos curtos em uma linguagem coerente, que mantém os acontecimentos em permanente movimento.
As descrições dos locais são verdadeiros passeios por pontos e passagens de Barcelona, dando ao leitor aquela sensação de quem está acompanhando o autor pelo local, sem serem descritivas, ao ponto de cansar, e no ponto certo de manter o interesse na leitura.
Foi uma leitura agradável sem grandes contratempos, mas que também não teve grandes emoções, deixando tudo, o tempo todo, morno. E algumas tiradas beiraram a autoajuda sem, no entanto, soarem como tendo esse objetivo. Para mim, o que tirou o brilho da história foi o romance, sem ele teria sido um livro realmente muito bom.
A edição que eu li tem uma boa encadernação, com uma impressão e papel amarelo agradáveis para leitura, uma diagramação excelente, gostei muito da tradução. O único “porém” é o trabalho de capa e revisão que, em minha humilde opinião, deixaram a desejar.
site: http://www.clubedofarol.com/2020/03/resenha-amor-em-minuscula.html