Gregory 20/01/2019
Simplesmente genial
Já há algum tempo venho pensando seriamente em deletar as minhas redes sociais, pois não aguentava mais a forma como ela nos afasta, inclusive, de nossos próprios amigos dentro de sua plataforma, com algorítimos e códigos imperfeitos, criados apenas para favorecer postagens patrocinadas e perfis premium. Eis que, no entanto, no início desse ano de 2019 conheci este volume do "Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais" de Jaron Lanier e passei a pensar que talvez eu não fosse o único insatisfeito com o formato em que as maiores oligarquias de redes sociais funcionam.
Jaron Lanier traz uma proposta interessante em sua brochura, na medida em que falar de assuntos que vão contra a maré da realidade da sociedade tenham se tornado tabus sociais. Quantas vezes já não se cansa de escutar "quem não tem rede social, não existe" ou "empresas que se propõe a nascer sem um perfil no Instagram, são empresas que já nascem prestes a morrer"? Pois bem, essa foi, então, a primeira chamada que "Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais" já me trouxe como motivo para lê-lo.
No livro, Lanier (um indivíduo totalmente ausente de redes sociais, mas precursor de diversas tecnologias, inclusive da própria Internet), embora seu título sugira o contrário, não tem o interesse de nos convencer a deixarmos de usar as redes sociais, mas, sim, de nos instruir sobre como funcionam de verdade as redes sociais que permeiam a vida de milhões (quiçá bilhões) de pessoas ao redor do Globo.
Em um primeiro momento, antes de começar a falar dos "Dez Argumentos", Lanier se usa de uma comparação genial de como devemos nos comportar nas redes sociais, utilizando uma metáfora com os vídeos mais famosos da rede mundial de computadores: vídeos de gatos.
Por que os vídeos que trazem esses felinos como protagonistas são tão populares? De forma bem resumida, Lanier expõe que, diferentemente dos cães, os gatos são bastante imprevisíveis, o que atrai de forma incansável a atenção de nós humanos. Rotinas nos cansam, logo vídeos de cães facilmente treináveis, nos entendiam facilmente; enquanto que vídeos sobre gatos, praticamente impossíveis de serem treinados, nos prendem a atenção facilmente. Segundo o autor, é assim que devemos ser: como os gatos, imprevisíveis, "intreináveis", atraentes ao público das redes sociais.
Em seguida, Lanier passa a discursar sobre seus argumentos magnificamente bem construídos sobre como as redes sociais podem acabar nos dominando, por conta de sua natureza falha e completamente inumana, embora estas sejam formadas e feitas por e para "pessoas humanas".
Assim como a Internet, as redes sociais vieram para conectar as pessoas, mas que, por conta de alguns milionários excêntricos mundo afora (Leia-se Mark Zuckerberg, Larry Page, dentre outros), tiveram os valores de suas naturezas alteradas drasticamente, se não, invertidas.
Na intenção de criar fortunas e gigantescas oligarquias, empresas denominadas como Bummer, por Lanier (Facebook e Google, por exemplo) inverteram a ótica de conexão entre pessoas, e geraram algorítimos capazes de afastar-nos cada vez mais uns dos outros, por meio do patrocínio de mensagens de conteúdo polêmico, memes virais sem contexto claro e deturpação do conceito de ser "ser humano pensante, lógico e dotado de raciocínio argumentativo". A verdade é que hoje vivemos a era da informação mais deturpada de todas, na medida em que todos conhecem os fatos, ao mesmo tempo em que ninguém sabe identificar as evidências. Segundo Lanier, saímos de perguntadores de porquês e passamos a disseminadores de o quês.
Além da questão informacional que vem perdendo seu sentido, Lanier ainda nos expõe à realidade de como as redes sociais podem ser extremamente viciantes e, consequentemente, maléficas à nossa própria saúde humana. Seja sincero, você que usa as redes sociais, quantas vezes por dia você dá aquele clique na tela do seu smartphone para ver se ganhou mais alguma curtida ou comentário na última postagem feita. Admito que fazia isso (sem exageros) de 40 a 100 vezes por dia. Podia ser inclusive que não passasse de uma hora on-line, mas a ansiedade por "atenção" (Leia-se curtidas, comentários e seguidores/pedidos de amizade, ou ainda mensagens privadas) costuma dominar-nos sem que percebamos isso, além dos nos deixar profundamente aborrecidos pela "atenção não correspondida".
Após apresentados os "Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais", Lanier ainda nos introduz a um assunto "tudo a ver" com as redes sociais ("tudo a ver" para quem ler este livro) que, inclusive, vem sendo palco de diversas discussões mundo afora, em todas as classes sociais (e que é uma paixão particular de minha parte): a Inteligência Artificial (IA).
Por fim, magistralmente, o autor encerra seu conteúdo, como uma nova metáfora entre nós e os popularíssimos gatos do Youtube/WhatsApp. Vale a pena conferir todo o conteúdo deste livro, principalmente para entender esta última metáfora, que consegue resumir nossa realidade atual de forma espetacular e que nos deixa a pensar por meses.
AVISO: este não é um livro para pessoas que já se consideram com opiniões formadas sobre qualquer coisa relacionada a redes sociais. Embora a linguagem do autor seja extremamente fluida e compreensível (aos que querem, de fato, compreender), "Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais" precisa que você esteja disposto a abrir mão de seus pré-conceitos para conseguir penetrar na mente de Lanier para, só então, conseguir entender seu ponto de vista, mesmo que você não venha a concordar parcial ou completamente com ele.
Argumentar é preciso para sobrevivermos, mas, para tal, devemos ter bases prévias a isso. Portanto, esta é uma dica de vida (inspirada, inclusive em Jaron Lanier), tenha dois ouvidos, para escutar ambas as versões; dois olhos para enxergar ambos os contextos; e apenas uma boca para, depois de todos os outros sentidos, argumentar de forma clara, justa e sensata.
Recomendo deveras a leitura deste exemplar.
Obs: Não possuo mais contas nas redes sociais Facebook e Instagram, desde antes e após a leitura desta obra de arte.