Ana 23/02/2023
A minha vontade de ler Anna Kariênina surgiu, serei honesta, quando a Companhia das Letras o colocou entre as opções do mês para os parceiros e eu fui procurar saber um pouco mais sobre o livro. Essa obra é claramente um clássico que mostra o cenário da Rússia no século XIX e que causou muito espanto na época em que foi publicado, pois a sua história central gira em torno da personagem Anna, que se envolve em um caso extraconjugal, tema que sempre será tabu, independentemente da época retratada.
A trama é dividida em oito partes que acompanham Anna Kariênina e outro personagem central, Liévin — que curiosamente se encontram apenas uma vez durante as 818 páginas de história. Anna é uma mulher deslumbrante, que chama atenção por onde passa, enquanto Liévin é um homem quieto, que gosta do campo e tem um desejo enorme de se casar. Apesar dessa curiosidade que citei anteriormente, os dois personagens estão totalmente ligados por questões familiares, o que, para mim, é um dos pontos principais de Anna Kariênina.
A protagonista Anna surge logo no início do romance para tentar salvar o casamento do seu irmão mais velho, Oblonsky, cuja traição com a preceptora dos filhos foi descoberta pela esposa, Dolly (que obviamente acaba perdoando o marido por questões de comodidade). Anna é casada com o Conde Alexei Karenin, o que não a impede de se apaixonar perdidamente pelo Conde Vronsky, que acaba sentindo o mesmo por ela. Obviamente os dois se envolvem e, com exceção das partes voltadas à Liévin, tudo gira em torno do relacionamento entre Anna e Vronsky.
Assim como várias outras pessoas que tiveram contato com esse livro, a impressão que eu tive é que o que levou Anna a se envolver com outra pessoa foi a necessidade de amar alguém verdadeiramente — apesar de o romance com Vronsky ter começado apenas pela aparência dele. Acredito que para conquistar isso, a personagem acabou tomando decisões extremamente egoístas sem realmente parar para pensar no tamanho da besteira que ela estava fazendo. Eu sinceramente só conseguia sentir ranço da Anna, porque ela simplesmente queria que todos aceitassem como uma coisa normal a traição. E sim, todo mundo sabia o que estava acontecendo.
Eu não acho aceitável as pessoas usarem traição com a desculpa de "preciso ser feliz", mas o caso de Anna é muito pior porque, apesar de o Conde Karenin realmente não amá-la, a gente consegue perceber que há ali uma relação de muito respeito. É claro que raramente os casamentos naquele contexto eram firmados por amor, mas, para mim, nunca vai justificar as atitudes da protagonista. O mais engraçado é que ele tenta abrir os olhos da esposa, mas ela só consegue vê-lo como um monstro que, na minha concepção, ele não é.
Apesar disso, os capítulos com foco em Anna foram muito mais satisfatórios para mim do que os do Liévin, não por ele ser um homem acomodado com a sua vida, mas por várias partes em que ele fala sobre economia, agricultura e várias outras coisas das quais, naquele momento, eu não tinha o menor interesse. Não que fosse uma linguagem difícil ou técnica demais, mas para mim só foram um monte de informações que não fariam falta nenhuma caso fossem retiradas, por exemplo.
O que fez, sinceramente, eu me interessar por esse livro foi o fato de narrar um adultério envolvendo uma mulher, e não um homem. Quer dizer, se você parar para pensar, quando um homem trai, arranjam milhares de justificativas para não enxergarmos aquilo como um erro, mas como um deslize ou algo do tipo. Agora, quando uma mulher é inserida nesse papel, a gente consegue ver claramente como as opiniões mudam. Repito, eu não concordo com as ações da personagem em Anna Kariênina, mas é um fato que nos faz refletir bastante.
Para quem tem interesse em ler Anna Kariênina, mas tem medo da linguagem por ser um livro de Liev Tolstói, não se acanhe: não tem nada de difícil nesse livro. Provavelmente esse foi um dos pontos que mais me agradou fora do contexto da história em si, que é um espetáculo.
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