tainana0 07/02/2023
“Não consigo imaginar uma situação em que a vida não seja um tormento, todos nós fomos criados para atormentar a nós mesmos”
Muitas pessoas conhecem Anna Karenina por sua citação inicial, a qual diz muito sobre grande parte das famílias dos livros. Na sociedade aristocrata russa retratada por Tolstoi, vê-se que grande parte das famílias vive sobre uma cortina social de beleza, quando na verdade suas relações já foram a muito envenenadas.
Preciso começar falando sobre minha experiência de leitura. Anna K. é um grande clássico da literatura, e com grande quero dizer que é um calhamaço, sendo mais de 800 páginas em uma densa e bem elaborada rede escrita. Tolstoi sabe o que está fazendo ao gastar linhas e mais linhas em descrições que poderiam ser simplificadas, mas este é justamente o ponto de tal clássico: não simplificar o que poderia ter sido.
Acredito que muitos dos atuais leitores já foram enveredados pela ‘literatura fast food’, termo que se refere a necessidade – gerada pelo capitalismo – de leitura e escrita rápida, por uma questão de validação social e monetária, etc. Então, ler Tolstoi e outros clássicos russos se torna complicado, inclusive digo isso por experiencia própria, mas com alguma insistência, tive uma das melhores leituras da minha vida. Enfim, vamos ao livro.
“– Eu, infeliz? – disse ela, aproximando-se dele e fitando-o com um extasiado sorriso de amor. – Eu sou como uma pessoa faminta a quem deram o que comer.”
Relendo trechos destacados, encontrei tal frase dita por Anna Arcadievna que diz muito sobre a situação da mulher. O livro começa de forma cativante, mostrando que a mulher se preocupa com a situação matrimonial do irmão com a cunhada, e logo é exibido que Anna não causa esse efeito apenas no leitor, pois o militar solteiro, Vrónski, sente algo que vai além de simpatia pela personagem. Ao que o sentimento se mostra mútuo, ambos se lançam
numa rede nada discreta de sentimentos, traições, e mentiras.
Anna é faminta por amor. Faminta por paixão. Ao ser casada muito cedo com um homem mais velho e de cargo publico alto, a mulher nunca teve a oportunidade de experimentar sentimentos avassaladores como os que Vrónski lhe causa.
Como este é um livro que tem como princípios mostrar dualidades, ao contrário de Anna e o Conde, temos Liévin e Kitty. Liévin vive sua vida numa tranquilidade até mesmo mórbida, na qual esta sempre se questionando sobre a existência e questões que tangem a sociedade (na qual ele se recusa a habitar). Uma das partes mais confusas, porem que acredito ser de extremo proveito, é a grande reflexão de Kostia Lievin sobre Deus e sobre sua existência.
Além disso, a obra retrata questões sociais como o implante do socialismo, a educação dos pobres, a educação feminina, e retrata opiniões que poderiam ser consideradas até mesmo polemicas para a época. “Isso é incompreensível, como é incompreensível que o poleiro da galinha cure uma criança que grita. É preciso curar aquilo que faz o povo ser pobre.”.
O final da parte sete foi a parte que mais me abalou, afinal, Anna já se mostrava perturbada a alguns capítulos, me incomodando com seus pensamentos descritivos. A única reclamação que eu gostaria de fazer é sobre a falta de informação dos outros personagens. Por exemplo, como ficou Serioja com toda essa situação?