Nicolas388 27/12/2022
"Crianças devem ser enganadas para crescerem sem traumas"
Tenho que confessar que foi uma leitura muito diferente do que eu esperava. Trata-se de um livro de memórias e, sendo sincero, não era a escrita que eu esperava de um Nobel, o que não necessariamente quer dizer que seja ruim. Pelo contrário, a história é instigante, além de uma das construções mais reais que já vi de personagens, como se realmente os conhecesse e estivesse ali durante cada pequeno evento cotidiano.
Particularmente, gostei de certas escolhas narrativas do autor, como se demorar ao máximo para explanar as engrenagens de sua distopia. Em geral, histórias de ficção-científica sempre têm capítulos e capítulos só de explicações só para exibir o quanto o escritor criou um mundo doido e complicado, mas Ishiguro não tem essa preocupação. Ele está focado em seus personagens, seus sentimentos, sua vida.
É interessante notar que, como clones criados para doarem seus órgãos até "concluírem", isto é, morrer, eles em momento algum colocam suas esperanças num outro destino que não este. Apenas pedem um adiantamento.
Kathy, a narradora-protagonista, relata-nos suas memórias como se nós também fizéssemos parte desse mundo estranho... e será que não fazemos mesmo?