@apilhadathay 13/03/2022
Maravilhoso S2
Drácula, uma narrativa de homens, mulheres, vampiros e lobos, de seres mortos-vivos! O livro destaca, mais do que o mito do vampiro (que legou à modernidade), as histórias de pessoas fortes, corajosas, que sentem as ameaças ao seu redor, mas não se calam, nem congelam diante do medo. Tudo começa com a visita do jovem advogado Jonathan Harker ao misterioso e recôndito castelo do Conde Drácula, nas sombrias florestas da Transilvânia. O que começou com o pretexto de uma visita legal é revelado um cativeiro, com um terrível destino que se aproxima do jovem. Na sua terra natal, por sua vez, Mina, sua noiva, é atacada por uma doença misteriosa que parece extrair o sangue de suas veias, e não apenas ela, mas outras jovens locais. Com a incrível participação do dr. Van Helsing, esse é um clássico de deixar a gente sem fôlego, desejando mais e mais páginas!
Depois de conhecer o mito do vampiro por Anne Rice e seu delicioso ENTREVISTA COM O VAMPIRO, sempre me senti atraída pelas narrativas que tomaram conta da ficção brasileira, da estrangeira e das telinhas e telonas sobre o tema. Mas o Drácula de fato, me fez esquecer tudo que eu já havia lido e visto sobre vampiros e observar o mito sob outra ótica. Não é um livro do tipo "ou você ama, ou odeia". Você vai curtir muitas passagens, questionar outras, torcer o nariz para algumas e berrar alto com desfechos de certas cenas. Não à toa, é um clássico imortalizado na literatura universal.
Eu gosto muito das narrativas epistolares - em forma de cartas. Isto nos permite ter acesso a pensamentos, sensações, emoções, que as pessoas só se sentem livres para expressar no papel. Gostei da obra como um todo, mas adoraria ter visto mais do Drácula - até registrei que, em vários momentos, o protagonismo do livro foi entregue aos demais personagens, pois o Drácula só surge quando mencionado nas cartas de alguém. Isso me fez questionar o real protagonismo dele, mesmo que, pensando mais a fundo, essa ameaça que paira sobre cada missiva, essa quase onipresença dele em todas as correspondências, com mais ou menos sutileza, nos leva a pensar que ele tinha o foco, mesmo quando não estava sob os holofotes - ou seja, quando percorria as sombras, saía para jantar, visitava outros vilarejos, espalhando seu sutil terror.
Sim, ele tem poderes sobrenaturais: consegue controlar o clima ao seu redor, os animais (inclusive pode transformar-se em vários deles), possui uma super força e é imortal. Em mais de um momento, eu me flagrei pensando no quanto foi absorvido pelas narrativas contemporâneas. Inclusive a sugestão de que ele precisa de um convite para entrar em uma casa onde jamais entrou antes. Isso é fantástico porque nos leva a pensar: 1) que devemos ter muita cautela antes de convidar quem quer que seja à nossa casa, os "vampiros" da nossa sociedade; 2) que existe nele algo de humano, educado, que precisa de algum consentimento (embora Jonathan pareça ser uma exceção, rs).
Afora as reproduções de discursos machistas (claro, é uma obra oitocentista, mas isso me incomoda tanto) e a luta final, que eu desejaria que tivesse durado mais e sido contada em mais detalhes, é uma obra genial, que vou recomendar eternamente.
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