Yeda 04/10/2022
O livro fala sobre Yu-jin, que acorda sem lembra de nada do que aconteceu na noite passada, e se depara com uma cena terrível: o corpo de sua mãe degolado e sangue por todo lado. Ele precisa descobrir o que aconteceu. A narrativa é em primeira pessoa e conforme a trama se desenrola, descobrimos, junto com o protagonista, o que aconteceu. E também compreendemos a complexa relação entre mãe e filho e o passado deles.
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No geral, é repetitivo. O protagonista é o narrador e a maior parte da história se passa em sua cabeça: Yu-jin mergulhando em memórias, Yu-jin desesperado e Yu-jin tentando se lembrar do que aconteceu e voltando sempre ao mesmo redemoinho de desespero e de negação da situação. O livro poderia ter umas cem páginas a menos e toda a estrutura ainda estaria intacta.
O maior problema desse livro é sua obviedade. Não há problema nenhum em ser previsível, contanto que a história seja bem contada; a premissa desse livro já implica certa previsibilidade e tudo bem. Aqui, a trama não é bem desenvolvida e a história não é bem contada. Já dá para saber como tudo vai desenrolar e todas as "minúcias" nas primeiras dez páginas. E o desenvolvimento da trama é fraco, sem nuance. Nada é demonstrado por atos, tudo o que acontece é o narrador dizendo claramente. Não há detalhes que indiquem nada. E como o livro só foca em um detalhe, tudo desaba; descobrir quem matou a mãe de Yu-jin se torna não só o clímax, mas uma muleta. Não há nada no livro fora isso. A relação entre o protagonista e a mãe só é explorado quando conveniente, sua personalidade também. Então, o que resta quando isso é mal construído? Nada. Outro problema é na primeira metade do livro, em que a autora tenta passar para o leitor o desespero que o protagonista sente. Então são diversas frases repetidas, sobre o protagonista estar desesperado, suando frio, negando tudo de novo, de novo e de novo. Isso é bem cansativo. E é inútil, já que o protagonista é frio.
- SPOILER ABAIXO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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--------CONTÉM SPOILER-------
Eu sou muito receosa com livros que tratam sobre assassinos em série, e esse livro só confirma o meu receio. A maior parte desses livros parece que tiram os requisitos para ser um assassino em série daqueles "Manuais do FBI", "Requisitos do FBI para ser considerado um serial killer" e colocam tudo no livro, escrito com as mesmas frases que a gente vê em qualquer post duvidoso do facebook. Então, do nada, tudo vem. Maltrato com animais, xixi na cama, falta de empatia. Tem até aquela frase óbvia que as pessoas são divididas em "ser útil para o psicopata ou não". É bobo e raso. "Eu minto para conseguir o que eu quero". Meu deus, há tantas formas de mostrar isso em um livro ao invés do narrador literalmente dizer isso. É ridículo. E a forma com que "descobrem" que ele é um psicopata? Pífio. Tudo é preto no branco, escrito em pedra.
"Ele agiu assim, assim e assim"(checa todos os requisitos para ser um psicopata), então ele é um psicopata. Os testes realizados nele que deixaram assustados todos os cólegas psicólogos? Quem escreveu isso? Uma pessoa de 15 anos? Como alguém simplesmente determina que alguém é um psicopata terrível porque a criança não sente empatia? Podre. De novo, parece um post de facebook. Mesmo tendo um questionamento sobre se foi justo ou não "diagnosticar" uma criança dessa forma, a própria trama apoia o "diagnóstico". A psicopatia aqui foi tratada como alguma alergia: você tem os sintomas então é obrigatoriamente isso. A própria personalidade do personagem é baseada nesses requisitos. Poderia ter explorado diversas vias para criar um personagem bom, já que é ficção e, mesmo na vida real, sabemos que esses requisitos não são obrigatórios ou definidores. Isso foi decepcionante, de verdade.
Por fim, o protagonista era para ser um narrador não confiável. Mal executado. Que narrador não confiável é esse que é tão óbvio? Que fala exatamente o que está acontecendo? Que, ao invés de distorcer as coisas, mentir e etc., só fala que está mentindo e dá para definir claramente o que ele está tentando justificar e o que ele não está?