Samantha @degraudeletras 06/09/2019HARDY, Thomas. Jude, o obscuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.Jude, o obscuro, publicado inicialmente em 1895, foi escolhido pela Fernanda Montenegro para a Tag Curadoria no mês de maio de 2019. Quando li a sinopse de Jude, logo fiquei empolgada para mergulhar nessa história, pois me lembrou bastante os conflitos encontrados em “A flor da Inglaterra”, do George Orwell,e eu amo essa temática Vida acadêmica – Trabalho – Sociedade. A ideia da formação acadêmica como algo essencial para alcançar uma estabilidade financeira ou realização profissional é algo que detém certa complexidade que me fascina.
Jude é um órfão que foi criado de maneira rígida pela tia e nutria muita admiração pelo seu professor do colégio. Tal admiração chegou ao ponto de influenciá-lo a sonhar com o seu futuro, queria estudar na mesma faculdade que levou seu mestre a mudar de cidade.
O tempo passou e Jude manteve seus estudos autodidatas com as gramáticas de Latim e Grego que conseguia comprar de vendedores ambulantes, porém a realidade de sua condição social o impeliu a dedicar-se ao trabalho árduo, inicialmente ajudando a tia e depois como entalhador.
A necessidade financeira para sustentar a si e a Arabella, a filha do criador de porcos a qual ele namorou por um tempo e acabou casando sem um real interesse, o levou a uma vida medíocre,onde o cansaço e as obrigações muitas vezes minava o pouco tempo que ele teria aos seus amados livros. Aqui é interessante ressaltar como a criação de Arabella influenciou a maneira como ela lidou com o sonhador Jude e seus livros, por vezes fazendo troça e até ameaçando dar fim em seus exemplares, pois para ela aquela dedicação intelectual não valia de muita coisa.
Depois de algum tempo, Jude conhece Sue, uma jovem de alma livre que, além de prima e amiga, torna-se uma grande paixão. Percebe-se nesse livro que os relacionamentos são construídos com base na personalidade de cada um dos personagens, mas que sempre vão discutindo ou sendo modelados pelas convenções e imposições sociais. Certos embates com as tradições e a luta em libertar-se de algumas amarras são palpáveis, embora por vezes cruéis. Não é de se estranhar que a obra tenha sido bastante criticada na época, principalmente pela igreja. A relação quase aberta que Sue mantém com o professor quebra os padrões de uma época em que a mulher deveria fornecer servidão indiscutível ao seu marido (um amigo chega a questionar se ela o enfeitiçou com a ideologia do matriarcardo).
“[…] Segundo a cerimônia impressa ali, meu noivo me escolhe livremente, a seu gosto; mas eu não escolho. Alguém me entrega a ele, como uma jumenta ou uma cabra ou qualquer outro animal doméstico. Santificadas sejam vossas iluminadas opiniões a respeito das mulheres, ó Homens da Igreja! […]” P. 164
Mesmo com as aspirações libertárias dos personagens, os grilhões sociais falam mais alto, aprisionam e massacram o indivíduo que tenta caminhar com seus próprios pés. Isso aproxima bastante a história da realidade que vivemos até hoje (seja em relação as mulheres ou as dificuldades impostas à Jude para que ele siga o seu sonho de estudar).
Como falei inicialmente, gostei bastante da proposta de Thomas Hardy e confesso que se eu não tivesse esse apreço pelo tema, Jude teria sido uma leitura bem difícil e arrastada, pois a melancolia do cotidiano e o vai e vem da história acabou me cansando um pouco.
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