Carous 05/08/2020Eu tenho muito receio de ler livro nacional contemporâneo pela escassez de resenhas nem no Skoob nem no Goodreads - um problema causado pela pouca valorização de novos escritores nacionais -. Fico desconfiada das notas altas e resenhas elogiosas serem frutos de leitores betas, amigos ou familiares desses escritores dando seu apoio incondicionável - bem legal da parte deles -, mas não serem honestas.
Outra coisa que raramente faço - porque já quebrei a cara antes - é seguir sugestão literário de perfis avulsos no Instagram.
Mas vi mais de uma indicação deste livro, então meu interesse aumentou.
Juntando esses dois fatores, pode-se dizer que baixei "Confissões de uma terapeuta" ~prendendo o ar que não sabia que estava respirando ~ (uma frase de arrepiar os cabelos que, inclusive, tinha no livro. Quase tirei pontos por isso) esperando o pior, mas torcendo pelo melhor.
Deu tudo certo, felizmente, e agora só me resta deixar mais uma resenha positiva e panfletar este livro pelo resto da vida ("Desculpe, senhora, mas você já ouviu a palavra de 'Confissões de uma terapeuta' hoje? Já baixou? Tá disponível no kindle unlimited. Senhora? Senhora?)
O livro tem um número excelente de páginas - nem muito pequeno que deixa a história corrida, nem a mais -, uma protagonista ma-ra-vi-lho-sa; engraçada, fofa, simpática. Precisamente a personagem ideal para uma comédia romântica. Melissa ainda tem três amigos fantásticos que funcionam muito bem no enredo; e personagens secundários que além de expandirem o universo da protagonista deixando que ficasse monótono ou repetitivo, se encaixaram muito bem ao conjunto.
Melissa é um pouco neurótica - e não me refiro ao TOC dela, muito bem abordado, por sinal. Nem clínico, nem banalizado - e é cismada demais com o peso dela. Compara-se demais ao corpo de sua paciente Alana. Francamente, duvido que ela seja * gorda * como afirma. E mesmo que fosse, qual o problema?
Não é uma crítica ao texto da Renata Lustosa nem à personagem. Mesmo não sendo minha parte favorita do livro, captei que Melissa representa mulheres reais com dilemas reais e, numa sociedade gordofóbica e obcecada pelo corpo perfeito, as inseguranças dela fazem sentido. Assim como fico triste vendo minhas amigas se comparando à outras mulheres, se depreciando e com uma relação conflituosa com a comida, fiquei triste da Melissa ser assim também. Só queria segurá-la pelos ombros e dizer: "Menina, você é otima!"
Penso o mesmo sobre a chateação de Melissa quanto a relacionamentos, homens, casamentos e filhos. Poderia dizer antiquado - mas não é -, mas não são irrealistas.
Mas eu ri porque a personagem viu "O casamento do meu melhor amigo" e não captou a mensagem principal. Felizmente não teve o mesmo comportamento que Jules, mas foi quase. E porque Melissa é mais sensata e tem amigos mais sensatos ainda. Achei bacana a ética pessoal e profissional dela.
Se fosse uma história em que a protagonista resolve se meter na relação alheia, forçar o amigo a cancelar o casamento por birra, eu teria abandonado de cara.
Além da bela construção da protagonista, dos personagens secundários, dos variados formatos de relacionamentos, do romance, do humor natural e da leveza com que a história flui, gostei do texto da autora. É bom, dinâmico, te fisga. Os diálogos traduziram como nós, jovens, nos comunicamos.
Só achei que repetiu-se muito que Melissa só tinha duas pacientes. Às vezes a informação era relembrada de um jeito até criativo, mas normalmente era apenas Melissa falando "Tenho duas pacientes. Tenho apenas duas pacientes" E, eu guardei isso, não precisa reforçar mais vezes.
Sobre a edição: capa bonita vende e a de "Confissões de uma terapeuta" atingiu meu ponto fraco: capas bonitas & fofas! A diagramação é bem mulherzinha - adoro! - e a fonte usada nos capítulos é uma das minhas preferidas.
Mas encontrei uns erros ortográficos. Foram poucos, mas que se repetiram muito na história. Também não foram graves, mas são justamente os que mais me incomodam *sorriso amarelo* (confundir deste/desse & variações; e o vício de linguagem "há x dias/horas/meses/anos atrás")
Darei uma colher de chá ao livro visto que o texto é bem coloquial e os personagens representações de pessoas. Pessoas que cometem esses deslizes ortográficos o tempo todo *cara de lua*
Como mencionei nos parágrafos anteriores, as dúvidas, perrengues e confusões de Melissa não fogem da realidade. O livro não escapa disso, apesar de ser muito bom pecou por não ter personagens POCs relevantes (só há Lorraine - amarela - e Iolanda - negra -. Foram bem retratadas, mas estão longe de serem relevantes na história), LGBTQs e PCDs. Vou fingir que o Júlio atende a cota gordo para não parecer muito chata.
Mas uma coisa legal é que a história se passa em São Paulo e a autora teve a sensibilidade de dar explicações sobre a geografia da cidade. Eu conhecia os bairros mencionados e o sistema de metrô, mas nem todo leitor mora em São Paulo ou conhece a cidade, então foram explicações bem vindas que se adequaram à história.
Já escrevi tanta coisa e ainda nem cheguei no romance.
Aaaaaaaaaaah, eu shippei horrores a Melissa com O Amigo! E eu nem gosto desse trope de amigos que descobrem que são apaixonados um pelo outro, mas dei pulinhos de alegria quando percebi que eles seriam endgame. Eles super combinam e são TÃO FOFOS JUNTOS