Camila Felicio 30/07/2023
Um dos livros mais polêmicos na Espanha.
So eu fosse dar nota para a edição da Intrínseca seria baixa, não gostei muito das decisões de tradução, e não me pareceu adequado a bandeira espanhola estampando a revista do clube, isso certamente provocaria desconforto em muitos espanhóis, sejam eles euskaldun ou não.
A Espanha é um dos países mais fragmentados, que teve sua unificação forjada a sangue mouro, a sangue galego, para não dizer sangue euskera e inclusive catalão... Poucos se sentem orgulhosos da grande pátria mãe construída pelos castellanos (Quee parem de correlacionar castellano como idioma ou como o irmão sulamericano!! Castellano vem de Castilla ou Castela, terra de Quijote, terra também de Isabel de Castilla e os Reis Alfonsos que com mão firme forajam essa união... concluída no entanto apenas por Isabel II com a união do último reino independente: Navarra em 1841, reduto de muitos vascos diga-se de passagem e parte da grande pátria euskera!
A sucessão dos atos ocorridos na região desde a ascensão do horroroso Francisco Franco (Galego q proibiu o galego, euskera e catalán), colocando todos os não castellanos na clandestinidade, ceifando vidas e individualidades, foi o grande motor que fez ampliar ainda mais a repulsa dos povos contra Castela e seus logros. Com anos de submissão e degradação as coisas foram saindo do trilho, se antes a ideia da grande pátria basca (ou Vasco em castellano, euskadi no idioma local) tinha idealismos, tinha suas razões, estas foram perdidas quando os atentados foram perdendo o objetivo, a máscara da violência foi caindo e só ficou o medo...
A causa independentista vai além de ideologias políticas simplificadas entre direita x esquerda, e muuuitos tem dificuldade de entender, criticando o livro por ser anti-euskadi ou por ser progres (como muitos na Espanha chamam o progressismo), mas eu o vejo como isento, como relato cru, como isso não pode ser simplificado por paixões políticas.. O independentismo é maior que a direita e a esquerda, e o terrorismo não deveria ser tolerado como meio aceitável por nenhum ser humano. A radicalização , de qualquer lado e viés, é irracional, e triste!
Se Euskadi tomou um viés a esquerda, a Catalunya tinha à direita durante seu intento falho de 2017, então simplificar seria de tontos! Na Galicia que bem conheço, temos o BNG, um bloco independentista com várias ideologias dentro! Enfim! É importante (e a intrínseca falha muuuuito) esmiuçar detalhes, pois dessa forma a leitura se torna mais prazerosa.
Sobre o livro: A narrativa segue bem o estilo artístico espanhol, com idas e vindas, linha do tempo pouco contínua, quem já acompanhou filmes do Almodóvar entenderá o que digo! É bem escrito, é sensível e REAL, vi muitos Joxe Marí na Espanha, muitas Miren, muitas Arantxas (aliás que personagem maravilhosa, minha favorita), muitos Joxians , Bittoris, Nereas e Gorkas....
Livro incrível, que tem que ser lido livree de amarras políticas para entender que não houve ganhador, todos perderam... o abraço tímido de Bittori e Miren é a tentativa de unificação da grande Euskadi depois de separações, dores e derrotas, sem nenhum ganhador ou vencido.