Menace 04/09/2023
Ele é um imortal com uma alma mortal
Não se pode negar, que em termos literários, este é um dos romances mais ambiciosos já escrito. Com uma visão futurista e revolucionária para sua época, é quase impossível ler ‘Entrevista com o Vampiro’ sem fazer uma viagem para o continente norte-americano do século XVIII, ao mesmo tempo em que somos transportados para o ano de 1970, data em que foi escrito.
Este é o primeiro livro da escritora Anne Rice de uma grande coleção denominada ‘As Crônicas Vampirescas’, onde ela vai apresentar todo seu universo que foi posto posteriormente em entrevista com o Vampiro.
Esta obra é um grande marco na literatura como um todo, pois ela vai trazer os contos góticos sob uma nova perspectiva. Ela mostra o que há de mais lindo, misterioso e apaixonante, fazendo com que seus leitores fiquem extasiados com o rico cenário, dialetos e costumes que ela aborda.
No entanto, não significa que não haja problema com a leitura. Ela é de fácil entendimento, o que faz com que seja fluida, rápida e ótima de apreciar, mas em alguns momentos ela fica monótona demais, os mesmo problemas são postos para serem resolvidos e a indiferença dos personagens é absurda.
Lestat é o famoso arrogante e presunçoso que os leitores amam odiar. Ele tem uma espécie de “amor” pelo Louis, o que é evidente durante todo o livro, mas em outros momentos é comum se perguntar se de fato é amor, pois o relacionamento deles é composto por brigas e tudo só melhora, pelo menos um pouco com a chegada da pequena Cláudia.
A ironia, o deboche e a falta de empatia é uma das características marcantes, além da falta de respeito pelas suas vítimas, o que faz em muitos momentos o leitor comece a alimentar ódio dele. No entanto, uma coisa impossível de dizer é que o personagem não tem presença, ele encanta todos, independentemente do quão cruel ele seja. Ele é frio mas de alguma forma se importa com o Louis, ele é mal, mas é engraçado. Ele é perfeitamente imperfeito, e com uma dose de maldade.
Já nosso querido Louis é o que de fato deixa algumas dúvidas. Ele é o oposto do Lestat, ele é bom, tem empatia, se importa com suas vítimas e isso o torna uma criatura boa –dentro dos limites de sua espécie – mas seu dilema, suas dúvidas e o fato dele simplesmente querer uma resposta para todas as suas perguntas, e é o que cansa.
Querer saber das coisas não é o ruim da trama, mas ficar constantemente querendo respostas que evidentemente não vai trazer benefícios nenhum é chato e maçante. Mesmo sendo um vampiro ele tem princípios de um humano, “ele é um imortal com uma alma morta”. Essa é uma das características que mais é citada sobre ele, mas chega em alguns momentos do livro em que decisões importantes deverão ser tomadas, que ele tem que fazer escolhas, mas ele se abstém dessas responsabilidades, o que faz com que o desenvolvimento do personagem fique em segundo plano.
Com a chegada da pequena Cláudia, a trama começa a andar em uma direção completamente nova. Ela é apresentada como a “filha deles”, depois de ter sido transformada em vampira pelo Louis –isso é uma grande diferença da obra para a adaptação cinematográfica -, ela é uma mistura dos dois, inteligente, gentil e amorosa como o Louis, má, perversa e adora brincar com suas vítimas como o Lestat. Seu desenvolvimento é evidente no decorrer da história, ela vai mudando sua forma de pensar, agir e socializar, ela começa a compreender o mundo a sua volta e o que ela é e representa para esse mundo. E aos poucos ela vai mostrando uma nova vértice do mundo para Louis.
Sua paixão pelo Louis é tão visível quanto seu ódio por Lestat, e isso é notável durante toda a obra, principalmente quando nos damos conta que o Louis cuida dela como uma filha, até porque é assim que ele a enxerga, e Lestat a vê como uma boneca, sempre limpa e arrumada para seu completo deleite. E é com esses opostos que se vão construindo esse laço de amor e ódio.
A trama vai contar com alguns acontecimentos já esperados, posto que o leitor já entende o desfecho pela própria entrevista de Louis. É fácil chegar a uma compreensão e a um final. No entanto, isso não impede de surpreender e fazer o leitor querer um pouco mais da história, pois acredita que apenas um livro não é suficiente para acalmar a fome pelas tramas vampirescas de Anne Rice.
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