debora-leao 09/02/2024
Como mudamos?
Que experiência deliciosa foi ler esse livro. Termino recomendando a todos essa leitura poderosa, forte, sensível, emotiva e impactante. E sim, foi uma indicação da minha própria analista, que já está comigo há 4 anos e me incentivou a fazer esta leitura umas 3x ao longo dos últimos dois. Me arrependo de ter demorado a começar, por preconceito e por não fazer tanta parte do meu estilo de leitura, embora o timing, no fim das contas, tenha sido perfeito para minhas reflexões e questões atuais.
Lori Gottlieb escreve muito bem! Fornece, aqui, o melhor dos mundos entre uma terapeuta, pessoa que se perde no mundo interno dos outros, e escritora, pessoa que vive de histórias bem-aparadas, da medida certa entre detalhes e generalidades.
O livro acompanha as histórias reais de pacientes de Lori, bem como dela própria. De forma mais aproximada, são quatro pacientes, todos com nomes trocados, claro: John, Rita, Julie e Charlotte. Ela, porém, cita vários outros, nomeados ou não, ao longo do livro, bem como conta sua história pessoal e profissional passada e presente, na terapia ou fora dela.
O grande destaque, para mim, vai para como a autora consegue fazer e mostrar o aprofundamento do processo psicanalítico de cada um. Os detalhes que menciona, como menciona, as suas próprias reações enquanto analista que nos mostra ao longo do livro... Certamente, exigiu coragem escrevê-lo, seja pelo quanto ela revela das próprias sessões como paciente, seja pelo quanto ela revela de si própria enquanto terapeuta, que é, como sempre esquecemos, um ser humano.
Não é uma obra que procura te incutir pensamentos ou te convencer de algum argumento específico - talvez apenas um, que abre a introdução (a resposta ao título desta resenha: "como mudamos? No contato com os outros"), o que achei lindo. É um livro que te conta detalhes de seres humanos, específicos, mas também gerais. Podemos facilmente nos colocar no lugar dos pacientes de Lori, ao conhecê-los melhor, e, assim, tomamos melhor dimensão do que é ser humano. Não conseguimos simplesmente julgar ninguém que aparece aqui... Como não deveríamos nas nossas vidas. O livro deixa claro que cada um de nós é multifacetado, ainda que sequer possa ter consciência disso.
Outro ponto que me tocou muito foi a sensibilidade da autora. As suas reações, conforme são narradas no livro, honestamente fazem parte de algo que eu gostaria que viesse a integrar minha visão de mundo, algo do meu espírito. A compaixão, a empatia, a escuta, o afeto sem arroubos, constante... São habilidades importantes que são demonstradas a todo momento durante a narrativa de Lori.
Não digo mais nada para não dar spoiler, mas o livro é muito rico. Mesmo. Entre a poesia e academia, que também se faz presente nos conceitos que ela nos apresenta, salpicados, condensados, mas ricos e coerentes com o desenvolvimento de casa coisa que ela nos conta.
Estejam preparados para se emocionarem durante a leitura, e, acima de tudo, para refletirem muito, de maneira a terminar questionando suas visões de mundo, suas lentes, suas formas de produzir sentido e mais. Recomendo demais, espero que todos leiam e apreciem este livro pelo que ele é.