Ana 01/03/2021
Eu nunca tinha lido nada da Caitlin Doughty — até porque quem acompanha o blog há mais tempo sabe muito bem que esse tipo de livro é muito mais a cara da Jess, que inclusive adora a autora. Apesar de ter Confissões do Crematório na minha pequena coleção, preferi começar o meu caminho com a morte através do Verdades do Além-Tumúlo simplesmente porque eu amo qualquer escrito voltado para o público infantil.
O livro consiste em, basicamente, várias perguntas que as pessoas fazem para a autora, principalmente crianças e adolescentes — ah, para quem não sabe, Caitlin Doughty é agente funerária, por isso ela tem tanto contato com a morte e, obviamente, cadáveres —, respondidas de forma muito verdadeira e sincera, tudo com base na ciência e nas coisas que ela mesma presenciou enquanto trabalhava. Pode até parecer um pouco mórbido falando assim, mas eu juro para vocês que não é. As crianças são incríveis e têm cada curiosidade engraçada que só lendo para acreditar. E é claro que, apesar de ser técnica em vários momentos, Doughty responde tudo com muito bom humor, o que facilita bastante as coisas.
As perguntas variam bastante:
"Quando eu morrer, meu gato vai comer meus olhos?"
"O que aconteceria se alguém engolisse um saco de milho de pipoca antes de morrer e fosse cremado?"
"Nós comemos galinhas mortas. Porque não comemos pessoas mortas?"
E por aí vai... Só para vocês terem noção do nível de criatividade. Mas, sim, são curiosidades comuns de crianças como quaisquer outras... Crianças são naturalmente curiosas, por que seria diferente com um tema como a morte?
Acho que a maior reflexão de Caitlin Doughty em Verdades do Além-Tumúlo é exatamente essa. Se a morte é algo normal, que vai acontecer com todos nós, deveríamos tratar do assunto com naturalidade, né? Acontece que a morte ainda é um tabu, de certa forma. É difícil e muito triste em quase 100% das vezes, porque a gente não quer de jeito nenhum que uma pessoa que a gente ama muito morra... Mas assim como a autora, acredito que aprender sobre ela pode ser um exercício divertido, e por isso esse livro é tão bacana.
Além da forma como a autora responde as perguntas, suave porém honesta, gostei especialmente de um capítulo no final do livro em que ela conversa com uma especialista sobre ser normal essa curiosidade nas crianças. E... Sim, é muito normal! A psiquiatra Alicia Jorgenson, aliás, aconselha que nós, adultos, falemos com clareza e sinceridade com as crianças, principalmente por ser um conceito complicado para elas... Afinal, um ente querido que morre não vai voltar e elas precisam entender isso, por mais triste que seja.
Me apaixonei perdidamente pela escrita de Caitlin Doughty, porque ela consegue realmente deixar um tema tão delicado muito gostoso de ler. Então se vocês estão se perguntando se podem dar esse livro de presente pro afilhado ou sobrinho sem que os pais pensem que você quer matar a criança de medo, saibam que ele tem o "selo de aprovação Roendo Livros para livros infantis". Mas vale lembrar que a obra é indicada para todo mundo que tenha curiosidades sobre a morte que ainda não foram respondidas. E, ah, não vejo a hora de ler Confissões do Crematório e Para Toda a Eternidade!
site: https://www.roendolivros.com.br