Edu Skywalker 23/08/2023
Superficial
Pacientes que curam tem um prefácio escrito com uma sutileza inigualável. As palavras de Júlia Rocha sobre sua profissão e sua maneira de enxergar a medicina nos enchem os olhos e criam uma ansiedade para conhecer as 74 histórias que compõem o livro.
O primeiro terço do livro é realmente muito bom, vemos a forma como Julia trata seus pacientes de maneira humanizada e tentando sempre ser mais que uma médica, uma amiga, talvez. Com sua maneira de lidar com a profissão, ela nos passa mensagens fortes com frases de impacto muito bem colocadas em momentos chave para nos dar um tapa na cara sobre como a realidade da classe baixa é cruel e muito longe da vida de quem é classe média.
Infelizmente, o resto do livro não funcionou para mim. Contos que perdem a sutileza dos primeiros e acabam literalmente te dizendo sobre o que eles estão falando, o livro passa a se resumir a capítulos e capítulos de situações muito semelhantes: mulher sendo reprimida pela sociedade; paciente negro e pobre sem o mínimo de amparo social que foi mal atendido por outro médico; uma consulta para resolver um problema que não é propriamente biológico. Está aí um resumo breve do que se trata 80% dos capítulos no resto do livro, mas, veja bem, esses tópicos são sim importantes de se comentar, o problema é a forma nem um pouco sutil de aborda-los, é como ler uma entrevista, parece que a Júlia simplesmente perdeu seu senso poético, tudo se torna raso e repetitivo. Apesar disso, ainda há alguns contos interessantes, com ênfase no número 67: "Para que serve ser médica?" Onde o cenário é um acidente de trânsito.
No fim, Pacientes que curam é um livro com mensagens importantes, porém muitas são passadas sem uma linguagem muito cativantes e acabam sendo um grande: "olha como esse problema é grave, olha o tanto de pobre que sofre, mulher sofre, preto sofre, homem branco é ruim" e isso, ao meus ver é reflexo de uma escrita pobre, o livro passa a ser: moralismo para idiotas.
Para fechar gostaria de exemplificar um dos diálogos mais pesados desse livro:
"Você tá se alimentando, Norma? Tô te achando tão magrinha!"
"Tô. Tô comendo."
?Será que está sendo suficiente?"
"Eu como pelo menos um tanto que dá pro bebê crescer...".