Isis Costa 26/03/2024Era uma vez uma guerreira menina...Em "Deusa de Sangue", FML Pepper me transporta para um universo complexo e intricado, onde as convenções sociais e a estrutura de classes se entrelaçam de maneira a relegar as mulheres a papéis secundários, reduzindo-as a meros objetos de reprodução. Através dos olhos de Nailah, uma jovem determinada e impetuosa que aguarda ansiosamente seu primeiro sangramento – um evento que ditará o curso de sua vida sob as rígidas normas de seu mundo – sou convidada a questionar os fundamentos de um sistema que esmaga sonhos e dignidade.
Nailah, a protagonista, encarna a resistência contra um regime opressivo que trata as mulheres com desdém, relegando-as a funções reprodutivas enquanto ignora seus desejos, sonhos e humanidade. A sua interação com Ron Blankenhein, repleta de brigas e resgates inusitados, acrescenta uma camada de complexidade à trama, sugerindo uma conexão mais profunda que desafia as convenções impostas pelo seu mundo.
Contudo, o tecido desta narrativa vibrante é pontuado por questionamentos que emergem da estrutura misógina e opressiva desse universo. Perguntas sem respostas sobre a lógica de um mundo que, apesar de originado no culto a uma deusa e suas sacerdotisas, opta por marginalizar suas descendentes. A narrativa deixa lacunas, despertando curiosidade sobre os alicerces dessa sociedade distorcida e as razões por trás de sua decadência iminente.
FML Pepper consegue, com uma escrita fluida e uma história que cativa, me manter engajada, apesar de algumas escolhas narrativas questionáveis. A concentração da protagonista em romances superficiais, por vezes, parece destoar do grave cenário de opressão que enfrenta, sugerindo uma dissonância na construção de seu caráter. Além disso, a brevidade do livro deixa certos aspectos, como o desenvolvimento do romance e dos conflitos principais, um tanto acelerados, prometendo resoluções mais substanciais na sequência.
"Deusa de Sangue" é uma leitura envolvente que não apenas entretém, mas também provoca reflexão sobre as estruturas de poder e o papel da mulher em sociedades construídas sobre os pilares da desigualdade. Apesar das imperfeições e das muitas perguntas deixadas no ar, o livro estabelece uma base intrigante para o que promete ser uma série reveladora, desafiando-me a questionar pelo próximo capítulo na jornada de Nailah em busca de liberdade e verdade.