Jow 29/09/2011Iridescent - Linkin ParkParece estranho acreditar que o mundo vem girando há milhares de anos, acho que isso foi deixando a gente alucinado, tonto, nauseado, porque nós fazemos as coisas como que para se livrar de um peso inexistente, talvez com as voltas que o mundo dá, ele acabe jogando nossa consciência no espaço, onde a roda do Ka gira ininterruptamente, onde os sonhos extraviados vão parar, e por ali reinaria meu deus, com seus olhos, seus ás, sua tez, e uma cama onde a noite sonhasse comigo, talvez... Fran Kotipelto
No milagre da vida o sobrenatural tem o seu lugar! E o mais irônico é que as interpretações sobre aquilo que se identifica como algo sobrenatural estão inteiramente ligadas a nossa percepção do que é real. É comum acreditarmos que a morte é algo místico e sem explicação. Mas, será que a vida também não o é?! Nossa percepção de mundo e de tudo aquilo que se faz presente naquilo que chamamos de vida, está inteiramente ligado a nossa mente. É essa máquina inteiramente desconhecida que produz os mais bizarros acontecimentos e nos proporciona todas as sensações para que a nossa condição de existência seja algo lendariamente singular.
É trabalhando os mistérios da mente que o grande Stephen King desenvolve mais uma obra magistral. Mas, em minha opinião, esta é uma obra particularmente perturbadora, que nos abre um verdadeiro leque de possibilidades e interpretações sobre a espetacular história de Jonny Smith. Um homem comum que sofre um acidente automotivo que o deixa em coma, que o faz perder consideráveis sete anos de sua vida, mas que desperta, em Jonny, uma curiosa sensibilidade para prever os acontecimentos passados, presentes e futuros relacionados à vida de uma pessoa. A sensibilidade com que King narra essa história é especialmente particular. Temos um livro que engloba várias camadas de pensamentos sobre um único ser humano, mas que desperta questionamentos vitais sobre a existência humana em muitos aspectos.
Embalando todo esse contexto, King entrega uma narrativa espetacular, cadenciada, empolgante. É um dos raros livros do autor em que ele é objetivo e sucinto naquilo que ele propõe contar. As personagens são extremamente bem desenvolvidas, desde Jonny e os seus conflitos existenciais, passando por Sarah que é um dos melhores personagens femininos criados por King, possuindo participações extremamente pensadas e importantes para o desenvolvimento da história, além dos pais de Jonny que são um show à parte nos momentos em que os conflitos familiares tomam proporções gigantescas. E por fim, temos Greg Stillson, um inescrupuloso candidato a deputado que possuí um modo operante bastante primitivo para realizar os seus desejos, e que vai jogar nas mãos de Jonny a decisão mais difícil de sua vida, algo que poderá mudar definitivamente o rumo da humanidade.
É neste universo múltiplo e ao mesmo tempo singular que A Zona Morta discute as mais diversas questões atreladas ao pensamento sobre a existência humana, sobre o destino e as possibilidades que a vida pode proporcionar a alguém, sobre a existência de Deus ou de algum Ser Superior, e sobre as possibilidades que o amor poderia construir. Aqui, o amor é algo que perpassa a realidade física e temporal! King constrói uma definição belíssima para o maior sentimento que o homem é capaz de sentir, definindo-o como um sentimento capaz de transformar pessoas e mundos, capaz de contornar as maiores barreiras impostas pelo destino, e encontrar um consolo mesmo quando um fato único muda a vida de uma pessoa para sempre. Sendo assim, não é nenhuma loucura eleger A Zona Morta como um dos melhores livros já escritos por King.